"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Tuesday, November 17, 2015

Indústria da raça bate recorde de produção - Theodore Dalrymple

“Muçulmanos britânicos relatam crescente aumento em islamofobia”, informa a chamada de um artigo no The Guardian no dia 12 de novembro. Pela chamada, eu achei que fosse ler sobre um aumento no número de perversos ataques contra muçulmanos motivados pelo fato de serem muçulmanos, ou pelo menos atos de profanação.


Mas não. O que eu li foram coisas como as seguintes, tiradas de uma pesquisa baseada na opinião de muçulmanos:


Mais de dois terços dos muçulmanos disseram à pesquisa que eles já ouviram comentários anti-islâmicos por parte dos políticos e metade acredita que os políticos apoiam atos islamofóbicos.


Ou:


Os efeitos sutis da discriminação também são crescentes, sugere o estudo, com 63% dos entrevistados relatando que já foram “humilhados ou tratados como se fossem estúpidos, ou tendo a sua opinião rebaixada ou desvalorizada”, um número que era de 38% em 2010.


Estes números têm pouco significado por si mesmos. Eles poderiam estar tanto inferindo que existem de fato mais declarações anti-islâmicas ou que os muçulmanos estão cada vez mais sensíveis a “insultos” percebidos de forma equivocada; ou mesmo ambos os casos podem ser verdadeiros. Afinal de contas, nós de fato vivemos em uma sociedade na qual reclamações do tipo “a minha opinião foi desrespeitada” são tratadas como justificáveis pelo simples fato de terem sido feitas. A definição de bullying no hospital em que eu trabalhava era a de que alguém se sentiu vítima de bullying, sem a necessidade de um correlativo objetivo ao sentimento. Desnecessário dizer que as reclamações de bullying aumentaram, pois eram auto-justificáveis.


O sentimento de ter sido humilhado pode tanto estar nos ouvidos do ouvinte como nos lábios do falante, mas, de qualquer modo, dificilmente pode ser considerado como evidência de ódio irracional ou medo do Islam. Eu ouso dizer que, se buscar na minha própria memória, encontrarei situações em que fui humilhado verbalmente no último ano. Mesmo que existam instâncias em que muçulmanos foram humilhados pelo fato de serem muçulmanos, isto não é necessariamente explicado pelo ódio ou medo do Islam: condescendência é normalmente a manifestação de uma tentativa desastrada de ser gentil ou compreensivo.

Um homem descrito como um professor de Estudos Raciais - e que portanto possui um interesse na manutenção do racismo - supostamente disse que “existe uma crescente hostilidade nas ruas em termos de ataques físicos e abusos”, e eu até estou inclinado a aceitar que isto seja verdade; em vista das ações de alguns dos seguidores de Maomé e da truculência de tantos dos nossos concidadãos, seria surpreendente se isso não fosse verdade. Mas o curioso é que o artigo não oferece os números de nenhum ataque físico real. E eu me pergunto: “por quê não?”.

Monday, November 16, 2015

Sobre a necessidade de pensar com clareza - Theodore Dalrymple

Há que se ter pena - um pouco - dos políticos, obrigados a reagir publicamente a eventos como os de 13 de novembro em Paris. Eles não podem silenciar sobre os mesmos, mas o que poderiam dizer que não soe banal, oco e óbvio? Não lhes restam opções corretas, apenas as erradas.

No entanto, isto não justifica a imprecisão ou a evasão. O presidente francês François Hollande chamou os ataques de “covardes”, mas se houve uma coisa que os agressores não foram (oxalá tivessem sido) foi covarde. Eles foram maus, suas ideias eram profundamente estúpidas e eles foram brutais: mas um homem que sabe que vai morrer ao cometer determinado ato, não importa o quão abominável, não é um covarde. Com a precisão de um drone, o presidente acertou no único vício que os agressores não manifestaram. Isto demonstra que a bravura não é uma virtude por si só, que para tanto precisa ser exercida em face de um objetivo que valha a pena. Para citar um eminente conterrâneo do presidente, Pascal: “Travaillons, donc, à bien penser: voilà le principe de la morale”. Esforcemo-nos por pensar bem: eis o princípio da moralidade.

O presidente Obama não fez melhor. Fez referência, em sua declaração, aos “valores que todos nós compartilhamos”. Ou ele usou a palavra “nós” como uma espécie de código, a despeito de se referir a toda a humanidade, ou não percebeu que os ataques foram uma consequência direta do óbvio fato de que nós - ou seja, toda a humanidade - não compartilhamos dos mesmos valores. Se assim o fosse, a política se reduziria a discussões sobre administração.

Políticos não são os únicos, no entanto, a proferirem coisas piores que os cliches (que, pelo menos, teriam o mérito de serem verdades): a estrela pop irlandesa transformada em guru, Bono, disse que os eventos de 13 de novembro foram um ataque direito contra a música. O senhor Bono poderia ter dito que estes foram ataques contra os restaurantes, contra a culinária cambojana ou, quem sabe, contra o futebol. Ao que tudo indica, na sua visão, bastaria o governo francês proibir a música e os terroristas teriam alcançado os seus objetivos, desistindo, assim, de futuros ataques.

Na noite dos eventos, eu acompanhei a cobertura pelo Guardian, o jornal inglês progressista, cujo website é um dos mais populares do gênero no mundo. Quando a contagem das vítimas era de “apenas” 40, o jornal publicou um artigo dizendo, en passant, que a grande maioria dos muçulmanos abominava os ataques. Eu não excluo esta possibilidade, mas não sabemos e nem podemos saber se isso é verdade: pois se a Rainha Elizabeth I não “tinha vontade de fazer janelas para as almas dos homens”, nós não temos a habilidade de fazê-lo, principalmente nesta questão. Mas o Guardian quis que assim o fosse e, para a sua própria satisfação, assim o foi. Este é o tipo de pensamento mágico que persiste nesta era sumamente científica; um pensamento perigoso, uma vez que completamente ineficaz.

Se alguma vez houve um momento para manter as palavras de Pascal em mente, este é ele.

Friday, November 13, 2015

A misericórdia segundo Ernest Hello

"A misericórdia – quem a vingará do aspecto ingênuo que frequentemente lhe atribuem? Quando se compreenderá que ela é inseparável de um ódio ativo, furioso, devorante, implacável, exterminador e eterno, o ódio ao mal? Quando se compreenderá que para ser misericordioso é preciso ser inflexível; que para ser doce com aquele que pede perdão, é preciso ser cruel com o inimigo dos homens que sugou o sangue desse homem ajoelhado, cruel com o erro, com a morte e com o pecado? A misericórdia é terrível como um exército pronto para a batalha. Tomou certa vez a figura de Judite e a água foi devolvida a Betúlia que morria de sede. Há muito tempo a malevolência e a tolice conspiraram para dar as virtudes o aspecto ingênuo e terno, retraído e lamentável. Ninguém sabe aonde chega a imoralidade e o perigo deste erro. Ninguem sabe até que ponto os homens, famintos e sedentos de grandeza, são afastados de Deus pelos pequenos livros que fazem Deus pequeno."

Ernest Hello