Há que se ter pena - um pouco - dos políticos, obrigados a reagir publicamente a eventos como os de 13 de novembro em Paris. Eles não podem silenciar sobre os mesmos, mas o que poderiam dizer que não soe banal, oco e óbvio? Não lhes restam opções corretas, apenas as erradas.
No entanto, isto não justifica a imprecisão ou a evasão. O presidente francês François Hollande chamou os ataques de “covardes”, mas se houve uma coisa que os agressores não foram (oxalá tivessem sido) foi covarde. Eles foram maus, suas ideias eram profundamente estúpidas e eles foram brutais: mas um homem que sabe que vai morrer ao cometer determinado ato, não importa o quão abominável, não é um covarde. Com a precisão de um drone, o presidente acertou no único vício que os agressores não manifestaram. Isto demonstra que a bravura não é uma virtude por si só, que para tanto precisa ser exercida em face de um objetivo que valha a pena. Para citar um eminente conterrâneo do presidente, Pascal: “Travaillons, donc, à bien penser: voilà le principe de la morale”. Esforcemo-nos por pensar bem: eis o princípio da moralidade.
O presidente Obama não fez melhor. Fez referência, em sua declaração, aos “valores que todos nós compartilhamos”. Ou ele usou a palavra “nós” como uma espécie de código, a despeito de se referir a toda a humanidade, ou não percebeu que os ataques foram uma consequência direta do óbvio fato de que nós - ou seja, toda a humanidade - não compartilhamos dos mesmos valores. Se assim o fosse, a política se reduziria a discussões sobre administração.
Políticos não são os únicos, no entanto, a proferirem coisas piores que os cliches (que, pelo menos, teriam o mérito de serem verdades): a estrela pop irlandesa transformada em guru, Bono, disse que os eventos de 13 de novembro foram um ataque direito contra a música. O senhor Bono poderia ter dito que estes foram ataques contra os restaurantes, contra a culinária cambojana ou, quem sabe, contra o futebol. Ao que tudo indica, na sua visão, bastaria o governo francês proibir a música e os terroristas teriam alcançado os seus objetivos, desistindo, assim, de futuros ataques.
Na noite dos eventos, eu acompanhei a cobertura pelo Guardian, o jornal inglês progressista, cujo website é um dos mais populares do gênero no mundo. Quando a contagem das vítimas era de “apenas” 40, o jornal publicou um artigo dizendo, en passant, que a grande maioria dos muçulmanos abominava os ataques. Eu não excluo esta possibilidade, mas não sabemos e nem podemos saber se isso é verdade: pois se a Rainha Elizabeth I não “tinha vontade de fazer janelas para as almas dos homens”, nós não temos a habilidade de fazê-lo, principalmente nesta questão. Mas o Guardian quis que assim o fosse e, para a sua própria satisfação, assim o foi. Este é o tipo de pensamento mágico que persiste nesta era sumamente científica; um pensamento perigoso, uma vez que completamente ineficaz.
Se alguma vez houve um momento para manter as palavras de Pascal em mente, este é ele.
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