A atual massa de desinformados que, respondendo a uma convocação de patifes, crêem agora estar defendendo Sérgio Moro e a Lava Jato contra a ampliação da tipificação penal do crime de abuso de autoridade contra membros do judiciário, é um excelente exemplo de como não basta ser de direita (ou de esquerda), é preciso ser um conservador.
Conservadorismo como aquele entendido por Russell Kirk, não como uma ideologia, mas como um adjetivo. Uma atitude, um conjunto de sentimentos, um estado da mente, um tipo de caráter, uma maneira de olhar para ordem social civil. A postura de desconfiança contra as fórmulas ideológicas prontas e, no caso atual, contra os heróis e salvadores erigidos pela massa.
O conservador, que ontem apoiava a Lava Jato e Sérgio Moro, hoje precisa se colocar no fronte antípoda desta batalha. Hoje, a ameaça que temos diante de nós é o ativismo judicial dos membros do Poder Judiciário, que abusam das suas competências, usurpando aquelas que seriam do Poder Executivo e, principalmente, as do Poder Legislativo. Se ontem o abuso de poder era cometido pelo PT e seus asseclas no âmbito do Poder Executivo, hoje é uma turma do STF que o abusa, ao usurpar o papel político do Legislativo, como quando, essa semana, tentou legalizar o aborto a partir do terceiro mês de gestação, num caso onde a questão nem era o mérito em dissídio.
Como diria um dos nossos maiores conservadores, Bernardo Pereira de Vasconcelos, em seu mais célebre discurso, "hoje, porém, é diverso o aspecto da sociedade. (...) Os perigos da sociedade variam; o vento das tempestades nem sempre é o mesmo; como há de o político, cego e imutável, servir a seu país?"
É exatamente por ser um conservador que hoje digo com convicção: "Abaixo Sérgio Moro! Abaixo o STF! Viva a Câmara dos Deputados! Viva o equilíbrio e a separação entre os poderes!"
Quem acha que um juiz pode fazer qualquer coisa na persecução da justiça não entende o que é a persecução da justiça. Não consigo entender alguém que seja contra o "checks and balances". Não adianta ser contra a "ditadura do Executivo" e defender "todo o poder aos juízes". Afinal, uma juristocracia é ainda pior do que uma ditadura.
Vamos transformar o Brasil na distopia do Judge Dredd ou quê?
São Tomás Moro, o padroeiro dos políticos, em conversa com o seu genro Roper, falando sobre determinado político inglês, de muito mau caráter:
São Tomas: "Precisamos dar a ele o benefício da lei".
Roper: "Você daria ao diabo o benefício da lei?"
São Tomas: "Sim, eu daria ao diabo o benefício da lei. Você não?"
Roper: "Nunca! Eu quebraria todas as leis para destruir o diabo!"
São Tomas: "Mas e, uma vez quebradas todas as leis, se o diabo se voltasse contra você, onde estaria o seu amparo?"
Roper: "Você daria ao diabo o benefício da lei?"
São Tomas: "Sim, eu daria ao diabo o benefício da lei. Você não?"
Roper: "Nunca! Eu quebraria todas as leis para destruir o diabo!"
São Tomas: "Mas e, uma vez quebradas todas as leis, se o diabo se voltasse contra você, onde estaria o seu amparo?"
É um claro caso de mecanismo do bode expiatório de René Girard essa crença de que o judiciário e o MP podem tudo na persecução de políticos corruptos, inclusive o abuso de poder e de competências, a espetaculização, etc.
A massa projeta no bode as suas frustrações miméticas e exige o sacrifício em praça pública, num mecanismo inconsciente e selvagem. Não importa o domínio das leis, do devido processo, mas o império da horda, da manada. Alguém precisa morrer para compensar as minhas frustrações.
Isso não é defender as instituições contra os corruptos. Isso é uma forma de corrupção em si. A corrupção do espírito. É a inveja mimética de uma falsa prosperidade da era pré-cristã. É o desejo de se retornar ao animismo, é a saudade da selva.
No comments:
Post a Comment