"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Tuesday, September 8, 2009

Sobre dores e amores

“Põe-me como selo sobre o teu coração (...) porque o amor é forte como a morte”. Cântico dos cânticos 8:6.



Kalevo Oberg fala dos estágios do choque cultural no contato com um meio social diferente. São 4. Primeiro, a lua-de-mel, recebe-se toda a novidade cultural como estupendo. Depois, vem o choque propriamente dito, o sentimento de desorientação e estranheza. A seguir, o período de negociação com as diferenças culturais. Por último, a aceitação de que coisas boas e más na outra cultura podem ser trabalhadas. Mas isto, meu amigo, é teoria. A prática, na maioria das vezes, dói.
Nesse caso, dói mesmo o tal segundo estágio. E foi nesse que me bati semana passada. Ou que me bateu.
Em dado momento, a vida fica normal a ponto de ficar “pensável”. Era finda toda a novidade, já tinha me integrado no projeto, dei algumas aulas, etc e tal.
Ao redor, uma vida toda diferente. Nada do que estava acostumado. Cores, gostos, costumes, cheiros, sotaques. Tudo tão diferente. Eu era o total estranho, o anormal, o Outro.
Então, a gente lembra do tempo em que era apenas mais um, era o patrício. Aquele sentimento de integração, de integralidade mesmo. Disso brota uma triste saudade, um sentimento de estranheza. Lembranças de tudo que deixei pra trás.
Já vi vários tipos de choques culturais. Uns ficam amargurados, outros culpam os pais por não terem nascido negros. Outros, ainda, olham para a cultura estranha com asco e não perdem nenhuma oportunidade de gabar-se da grandeza de qualquer rincão do qual tenha vindo. Preconceitos, estado de choque, irritabilidade, sentimento de superioridade, sentimento de inferioridade, interpretação errônea dos comportamentos. Tenha o efeito que for, choque cultural, no final das contas, não faz bem pra ninguém. Eu estava com a aura negra, como disse um colega de quarto. Minha dor era mesmo estar me sentindo deslocado, desintegrado. Estranho e, principalmente, sem amor.

Foi então que aconteceu algo que me restituiram os sentidos, me trouxe toda a força necessária para alcançar a sanidade, para poder pensar sobre aquele momento e me levantar em busca de cura para a alma.
Estava lendo um dos livros que trouxe do Brasil, justamente um sobre integração pessoal do Mário Ferreira dos Santos e, em determinada página, já muito avançado na leitura, encontro uma folha de papel como que a marcar alguma leitura anterior. Pego em minhas mãos aquela folha de papel e, surpresa!, era uma carta de amor. Uma carta dela. Naquelas palavras, todo o cuidado, carinho, preocupação, confiança e segurança que eu precisava. Experimento a verdade tantas vezes repetidas pelos poetas e filósofos, “a redenção pelo amor e no amor”. Na pior situação exterior, a entrega interior à pessoa amada é tábua salvadora.
“Saiba, porém, que aqui, ao lado dos seus, é o seu lugar”. Essa frase resgatou meu sentimento de integração. “Talvez minhas preocupações com você sejam infundadas, mas ainda não consegui chegar ao nível de maturidade pra deixar de sentir tanto medo, quando se trata de você (...) porque eu estava triste (...) mas acho que não tenho o direito de impossibilitar a você essa experiência. (...)”. A carta prossegue. Cada palavra são tijolos com os quais me reconstruo.

Tanto amor, amor que só uma mãe pode dar.

Te amo, dona Eida.

1 comment:

  1. Marcello (importa que agrademos a Deus em primeiro lugar)September 12, 2009 at 1:04 PM

    Sentiu saudade de casa, né maluco!!!!!!! Meu amigo-irmão essa viagem será ótima principalmente para vc se encontrar e afirma ou reafirmar os seus valores e principalmente para ter a certeza que na vida o que importa são os nossos alicerces que foram construídos por nossas famílias. Não esqueça de esse seu amigo (Reformado) que ora por ti e se puder mande noticias para mim.
    OBS: anote todas experiências , pois mais tarde pode gerar um livro e assim nos dois ganhamos dinheiro vc como escritor e eu como empresário KKKKKKKKKKKK

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