Escrito por James
Delingpole
Tradução: Rodrigo Morais
Já que
ninguém me perguntou qual o melhor livro de 2015, eu vou dizer: É o
livro de Matt Ridley, Evolution of Everything.
Este livro
não apareceu em tantas listas de recomendações quanto os seus antecessores do
mesmo autor, Genoma e O Otimista Racional, nem recebeu tantas resenhas. E eu
tenho uma forte suspeita do por quê: a sua mensagem é tão revolucionária que causaria
desconforto em praticamente todos os grupos do espectro político: de cristãos e
muçulmanos a executivos corporativos, historiadores, feministas, educadores e
teoristas da conspiração, de verdes e socialistas (se é que são diferentes) a
conservadores como George Osborne e David Cameron.
E ainda é o
caso de ser, em minha opinião, cem por cento correto em todos os temas
abordados, da internet aos banqueiros, da agricultura a educação, do debate
sobre cultura vs. natureza a religião. E ninguém gosta de um espertinho –
principalmente se ele é um espertinho formado em Eton, com um título, um
patrimônio (construído por meio da exploração de minas de carvão) e uma infeliz
reputação do homem que foi diretor da Northern Rock quando a empresa
precisou ser socorrida pelo contribuinte – não é verdade?
O que é
ainda mais interessante do que o livro é a forma como ele tem sido resenhado pelos
bem-pensantes – principalmente John Gray, do The Guardian. Ele odiou o livro.
Odiou tanto que nem foi capaz de fazer um esforço para lê-lo. Ou, se leu, ficou
tão consumido por uma justa indignação que não conseguiu analisar nenhuma das “terríveis”
questões levantadas ali.
A resenha
de Gray é cheia de um desdém injurioso e arrogante: “um folheto pretencioso e enfadonhamente
repetitivo”; “Se ele fosse um escritor mais sério e atencioso, Ridley
poderia...”; “uma versão mecânica e atual de um libertarianismo de direita”. Há
ainda um parágrafo inteiro de afirmações ad
hominen, sobre os seus títulos, graduação e o caso Norther Rock. Quase nada,
no entanto, sobre o assunto tratado.
Basicamente,
o que o livro diz é que a evolução é um fenômeno que ultrapassa Darwin para
abranger tudo. A internet, por exemplo. Ninguém a planejou. Ninguém – vai devagar, Al Gore e Tim
Berners Lee – rigorosamente a inventou. Ela simplesmente surgiu, impelida pelas
necessidades dos consumidores e tornada possível pela tecnologia disponível.
Como diz Ridley, “ela é um exemplo vivo, diante de nós, do fenômeno de
emergência evolucionária – de complexidade e ordem criada espontaneamente, de
uma forma descentralizada, sem um planejador.
O que é
obviamente uma terrível heresia para todos os tipos de controladores, desde os
chineses, iranianos e russos, a Barack Obama, com célebre declaração em 2012: “A
internet não se inventou a si mesma. Foi a pesquisa governamental que a criou”.
Esta alegação
– como Ridley demonstra – é na melhor das hipóteses, discutível, e, na pior, mentira
pura e simples. De fato, o governo foi responsável, na verdade, por postergar a
internet. Uma das suas formas iniciais foi o Arpanet, financiado pelo
Pentágono, que até 1989 ficou proibido aos propósitos comerciais ou privados.
Um folheto do MIT de 1980 adverte os usuários de que “enviar mensagens
eletrônicas via ARPAnet para fins comerciais ou políticos é tanto antissocial
quanto ilegal”. A internet decolou apenas quando foi efetivamente privatizada, nos
anos 90.
A mesma
regra se aplica ao faturamento hidráulico, outra tecnologia normalmente
atribuída a R&D, empresa financiada pelo governo. De acordo com um meme
disseminado pelo California’s Breakthrough Institute, ele foi baseado numa
tecnologia de imagem microssísmica desenvolvida pelo laboratório federal Sandia
National. Hum. Não necessariamente. Ridley fez uma pesquisa e descobriu que o
financiamento veio, na verdade, de uma empresa inteiramente privada, a Gas
Research Institute, que contratou um técnico do Sandia. “Então, o único
envolvimento do governo federal foi ter oferecido um espaço para eles
trabalharem”.
Pode ter
certeza, no entanto, que o falso meme vai continuar a ser compartilhado, porque
ele encaixa numa narrativa na qual a maioria de nós gosta de acreditar, de que
sem uma direção “do alto”, nada seria feito, nunca. Na sua forma mais bruta,
este é um impulso que, no decorrer da história, levou os homens a atribuírem eventos
a divindades – seja a extração de corações ainda palpitantes dos prisioneiros a
fim de melhorar a colheita, ou a ordem governamental moderna que transforma
colinas em complexos de energia eólica (no estilo Monte Caveira), para acalmar
a deusa Gaia. E você encontra este impulso em todo lugar, da teoria dos Grandes
Homens, defendida por muitos historiadores, a maneira como as ações das
companhias sobem ou despencam assim que elas mudam de CEO.
Isso tudo
decorre, acredito, de uma desconfiança inata que muitos de nós temos das
indescritíveis maravilhas da nossa própria espécie. Pessoalmente, acredito
desde há tempos que, deixados a nossa própria sorte, tenderíamos mais aos
resultados bons do que aos maus – mesmo que motivados pelos interesses pessoais. Mas
até o momento não tinha conseguido dar uma resposta perfeita para a pergunta que
escuto de pessoas com uma visão pouco liberal clássica: “Você não gosta do
governo. Então o que prefere, a Somália? ”.
Agora, graças a Ridley, eu tenho uma resposta. Nós dois concordamos que existe
lugar para um governo que seja bastante limitado. Mas o que o peso da evidência
histórica mostra, de forma esmagadora, é que praticamente tudo de bom que
surgiu no mundo, o fez por acidente, e quase tudo de mal é (largamente) consequência
não intencional de utópicos, com muito poder, tentando consertar o mundo.
Destes
últimos, Ridley aponta, nós ganhamos a primeira guerra, a revolução russa, o
Tratado de Versalhes, a Grande Depressão, o regime nazista, a segunda guerra, o
Revolução Chinesa, a crise de 2008.
Dos
primeiros, ganhamos o crescimento da renda global, o desaparecimento de doenças
infecciosas, a limpeza dos rios e do ar, o uso da técnica de impressão digital
para descobrir criminosos e livrar inocentes. Ainda assim, todo o nosso sistema
global está orientado no sentido de receber diretivas de cima para baixo, que
invariavelmente tornam as coisas piores. Nós nunca aprendemos, não é verdade?
Original: http://www.spectator.co.uk/2016/01/the-best-things-in-the-world-have-always-sprung-up-by-accident-take-the-internet-for-instance/
No comments:
Post a Comment