"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Thursday, July 23, 2015

Teologia da Libertação, por Ion Pacepa

Livro Disinformation: Former Spy Chief Reveals Secret Strategy for Undermining Freedom, Attacking Religion, and Promoting Terrorism
de Lt. Gen. Ion Mihai Pacepa e Ronald Rychlak

Capítulo 15 - Teologia da Libertação

Khrushchev queria entrar para a história como o líder soviético que exportou o comunismo para o continente americano. Em 1959 ele conseguiu colocar os irmãos Castro em Havana e imediatamente o meu serviço de inteligência estrangeira participou da ajuda aos novos líderes comunistas de Cuba a fim de exportar a revolução para a América do Sul. O plano não funcionou. Diferentemente da Europa, a América Latina daquela época não foi picada pela mosca marxista. (Em 1967, o títere de Castro, Che Guevara, foi executado na Bolívia após uma tentativa frustrada de iniciar uma guerrilha naquele país.)
Nos anos de 1950 a 1960, a maioria dos latino-americanos eram camponeses pobres e religiosos que aceitavam o status quo e Khrushchev estava confiante que eles poderiam ser convertidos ao comunismo por meio da manipulação sagaz da religião. Em 1968, a KGB conseguiu convencer um grupo de bispos latinos de esquerda a organizarem uma conferência em Medellin, Colômbia. A requerimento da KGB, o meu DIE ofereceu assistência logística aos organizadores. A missão oficial da conferência era a erradicação da pobreza na América Latina. O objetivo não-declarado era a legitimação de um movimento religioso criado pela KGB apelidado de “teologia da libertação”, com a missão secreta de incitar nos pobres da América Latina uma rebeldia contra a “violência institucionalizada da pobreza” criada pelos Estados Unidos1.
A KGB tinha uma inclinação para movimentos de libertação. A Organização pela Libertação da Palestina (OLP), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)  e o Exército de Libertação Nacional da Bolívia foram apenas alguns dos movimentos de “libertação” nascidos na KGB. De fato, a Conferência de Medellin endossou a teologia da libertação e os delegados a recomendaram ao Conselho Mundial de Igrejas para aprovação oficial. O CMI, com sede em Genebra e representando a Igreja Ortodoxa Russa e outras pequenas denominações em mais de 120 países, já estava sob o controle da inteligência estrangeira soviética. Ele continua sob o controle do Kremlin ainda hoje por meio de vários padres ortodoxos que são proeminentes no CMI e são, ao mesmo tempo, agentes da inteligência russa. O dissidente russo, padre Gleb Yakunin, que foi membro da Duma russa de 1990 a 1995, e que teve, por um curto período de tempo, acesso aos arquivos da KGB, divulgou uma grande quantidade de informações dos relatórios samizdat identificando padres ortodoxos que eram agentes e descrevendo as suas influências nas questões do CMI. Por exemplo, em 1983 a KGB enviou quarenta e sete agentes a Assembléia Geral do CMI em Vancouver e, nos anos seguintes, a KGB assumiu ter usado seus agentes no comitê de seleção do CMI para conseguir que o homem certo fosse eleito secretário geral do conselho2.
O secretário geral do Conselho, Eugene Carson Blake - ex-presidente do Conselho Nacional de Igrejas nos Estados Unidos - endossou a teologia da libertação e a fez parte da pauta do CMI. Em março de 1970 e julho de 1971, o primeiro congresso católico sulamericano dedicado a teologia da libertação aconteceu em Bogotá.
O papa João Paulo II, que tinha experiência pessoal com a traição comunista, denunciou a teologia da libertação em janeiro de 1979, no Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), em Pueblo, México: “Esta concepção de Cristo como uma figura política, um revolucionário, como o subversivo de Nazaré, não coaduna com o catecismo da Igreja”. Em quatro horas, uma refutação de vinte páginas contra o discurso do Papa emergiu do Conselho. O Cardeal Lopez Trujillo, organizador do Conselho, explicou que a refutação era o trabalho de “uns 80 liberacionistas marxistas de fora do Conselho Episcopal”. Eu lembro que o DIE romeno tinha sido anteriormente congratulado pela KGB pelo apoio logístico oferecido a estes liberacionistas.
Em 1985, o Conselho Mundial de Igrejas, já dominado pela KGB, elegeu o seu primeiro secretário que era um marxista confesso: Emilio Castro. Ele estava exilado do Uruguai por causa do seu extremismo político, mas continuou na administração do Conselho até 1992. Castro promoveu de forma contundente a criação da KGB, a teologia da libertação, que está hoje fincando fortes raízes na Venezuela, Bolívia, Honduras e Nicarágua. Nestes países, os camponeses têm apoiado os esforços de ditadores marxistas como Hugo Chavez, Evo Morales, Manuel Zelaya (agora exilado na Costa Rica) e Daniel Ortega, a fim de transformar seus países em ditaduras policiais no estilo da KGB. Em setembro de 2008, Venezuela e Bolívia expulsaram, na mesma semana, os embaixadores americanos, e solicitaram proteção militar russa.
Navios e bombardeiros militares russos estão de volta em Cuba - pela primeira vez desde a crise dos mísseis de 1962 - assim como na Venezuela. Brasil, a décima economia do mundo, também adentrou para o aprisco do Kremlin por meio do seu líder marxista Lula da Silva. Em 2011, Lula foi sucedido por uma ex-guerrilheira marxista, Dilma Rousseff. Naquele mesmo ano, o récem-eleito presidente do Peru, Ollanta Humala, correu para Buenos Aires para buscar inspiração da presidente brasileira, a guerrilheira marxista. Acrescente-se a Argentina, cuja atual presidente Cristina Fernandez Kirchner está também colocando o país sob o marxismo, e o mapa latino-americano estará quase totalmente vermelho.
Alguns anos atrás, uma versão negra da teologia da libertação começou a crescer em algumas igrejas de tendência de esquerda radical nos Estados Unidos. Teólogos da libertação negra como James Cone, Cornel West e Dwight Hopkins afirmaram explicitamente a sua preferência pelo marxismo, porque o pensamento marxista é fundado no sistema de classe opressora (brancos) contra classe oprimida (negros) e oferece uma única solução: a destruição do inimigo. James Cone explicou:

A teologia negra só aceitará o amor divino que contribua para a destruição do inimigo branco. O que precisamos é o amor divino conforme expresso no Poder Negro, que é o poder do povo negro de destruir seus opressores aqui e agora por todos os meios disponíveis. Se Deus não for um participante desta atividade sagrada, nós rejeitamos o seu amor3.

A Trinity United Church of Christ, igreja predominantemente negra em Chicago, é parte deste novo movimento. Seu pastor, o reverendo Jeremiah Wright, que em 2008 se tornou um assessor da campanha presidencial do senador Barack Obama, se tornou famoso por bradar “não é ‘Deus abençoe a América’, mas sim ‘Deus amaldiçoe a América!’” A campanha presidencial do senador Obama pediu desculpas pelo deslize do reverendo Wright. No entanto, em junho de 2011, o reverendo, em turnê evangelística em igrejas negras nos Estados Unidos, pregava que “o estado de Israel é ilegal e genocida” e que “igualar o judaísmo com o estado de Israel é como igualar o cristianismo com o rapper Flavor Flav”4.
Obama, nesta época, já estava na Casa Branca.

Em 1960, Che Guevara se tornou um ícone do movimento teológico da libertação. Neste período, a popularidade do Kremlin estava em seu mais baixo nível. A brutal supressão soviética do levante hungaro de 1956 e a sua instigação da crise dos mísseis de Cuba enojou o mundo e os líderes dos blocos soviéticos tentavam salvar as aparências, cada um a seu modo. Khrushchev substituiu a “imutável” teoria marxista-leninista da revolução proletária mundial pela política de coexistência pacífica, enquanto simulava ser um defensor da paz. Alexander Dubcek apostou no “socialismo com uma face humana” e Gomulka, no “deixe a Polônia ser a Polônia”. Ceausescu anunciou sua “independência” de Moscou e se apresentou como um “dissidente” entre os líderes comunistas.
Os irmãos Castro em Cuba, que temiam qualquer movimento de libertação, decidiram que seria mais simples revestir o seu comunismo com uma camada revolucionária romântica, de fachada. Escolheram Che como garoto propaganda porque ele já tinha sido executado na Bolívia, um país aliado aos americanos. Após uma tentativa fracassada de iniciar uma guerrilha, ele poderia ser retratado como um mártir do imperialismo americano. A KGB imediatamente ofereceu apoio. O DIE romeno, que naqueles dias gozava de ótimas relações com os seus aliados cubanos, o DGI, recebeu, também, a ordem de dar uma mão e foi aí que eu entrei5.
A Operação Che foi iniciada com o livro Revolução na Revolução, uma cartilha para a insurreição guerrilheira comunista, que elevava Che aos céus. O autor, o terrorista francês Régis Debray, era um agente da KGB altamente condecorado6. Em 1970, os irmãos Castro aceleraram o processo de santificação de Che. Alberto Korda, um oficial da inteligência cubana disfarçado de fotógrafo no jornal cubano Revolucion, produziu uma imagem romantizada de Che. A imagem deste famoso Che Guevara, com longos cabelos cacheados, usando uma boina com a estrela e olhando diretamente para os olhos do espectador, invadiu, desde então, o mundo7.
Esta figura se tornou a logo do filme épico Che, lançado em 2009 por Steven Soderbergh, em espanhol, que retrata um assassino sádico que dedica a sua vida a trazer a América Latina para o rebanho do Kremlin como um “verdadeiro revolucionário através das estações do seu martírio”8.
O próprio dramaturgo que recebeu o crédito por escrever a peça que difamou o Papa Pio XII, O Vigário, foi alistado para o trabalho de promover o filme Che. A revista Time reportou em outubro de 1970: “No momento, Che aparece toda noite numa nova peça, As Guerrilhas, do dramaturgo alemão Rolf Hochhuth”. Na peça, “um jovem senador nova-iorquino que é líder de um movimento clandestino americano no estilo do grupo de Che, implora a Guevara que abandone a batalha boliviana. Che se recusa. ‘Minha morte - num sentido calculado - é a única vitória possível’, diz ele. ‘Eu preciso deixar uma marca’”9. Avançando ainda mais os interesses da KGB, a peça acusa os Estados Unidos de assassinato por motivos racial e político.
A KGB foi também responsável por embelezar um diário que Che manteve nos seus anos de estudante e o transformou num livro de propaganda, Das Kapital Meets Easy Rider, posteriormente chamado de Diários de Motocicleta. Hoje, Che é um ícone do movimento da teologia da libertação e da teologia da libertação negra.
Durante a campanha presidencial de 2008, a afiliada da emissora Fox em Houston divulgou um vídeo de voluntários da campanha do candidato Obama cujas paredes do escritório eram adornadas com uma enorme figura de Che sobreposta a uma bandeira cubana10. Obama frequentou a igreja da teologia da libertação negra do reverendo Wright em Chicago por vinte anos.
Como Raul Castro uma vez se gabou para mim, “Che é o nosso maior sucesso público”.  


Notas:

1. Koehler, 26.
2. see Keith Armes, Chekists in Cassocks: The Orthodox Church and the KGB, <www.spiritoftruth.org.orthodoxchurch.pdf>.
3. James H Cone. A Black Theology of Liberation. New York: Orbis Books, 1990, p. 27.
4. Marta h. Mossburg. “Reverend Wright brings his anti-American crusade to Baltimore”, no The Baltimore Sun, 21 de Junho de 2011 (edição online).
5. ver Humberto Fontova. Fidel: O Tirano Favorito de Hollywood. Regnery Publishing Inc, 2005.
6. Debray inicialmente ensinou na Universidade de Havana, na Cuba de Castro. Em seguida, ele se tornou assessor do presidente francês, o socialista François Mitterrand. Debray dedicou sua vida a exportar o comunismo cubano para a América Latina, mas, em 1967, uma unidade tática boliviana, treinada pelos americanos, o capturou, juntamente com todo o bando guerrilheiro de Che Guevara. Che foi sentenciado a morte e executado por terrorismo e assassinato em massa. Debray foi sentenciado a 30 anos de prisão, mas foi solto três anos depois por meio da intervenção do filósofo francês Jean Paul Sartre. Em fevereiro de 2003, Debray publicou “The French Lesson” no jornal New York Times (que descreveu Debray como um ex-assessor do presidente Mitterrand mas omitiu o fato de ter sido sentenciado a prisão por terrorismo). Regis Debray, “The French Lesson”, New York Times, 23 de fevereiro de 2003, edição online.
7. Esta figura de Che foi originalmente introduzida ao mundo pelo agente da KGB disfarçado de escritor, I. Lavretsky, no livro Ernesto Che Guevara, que foi editado pela KGB (Moscou: Progress Publishers, 1976). A KGB deu o titulo a foto de “o guerrilheiro heróico” e a disseminou na América do Sul, a área de influência de Cuba. Um editor italiano, o milionário Giangiacomo Feltrinelli, um comunista apaixonado pela KGB, inundou o resto do mundo com a figura de Che impressa em posteres e camisetas. De um dia para o outro, o terrorista Che Guevara se tornou um ídolo da esquerda internacional. Feltrinelli se tornou, ele próprio, um terrorista, e morreu quando plantava uma bomba em Milão, em 1972.  
8. A.O. Scott, “Saluting the Rebel Underneath the T-Shirt”, New York Times, 12 de dezembro de 2008; Umberto Fontova, Fidel: Hollywood’s Favorite Tyrant, Regnery Publishing Inc, 2005.
9. World: Che: A Mith Embalmed in a Matrix of Ignorance”, Time, 12 de outubro de 1970.
10. Humberto Fontova, “Che Guevara and the Obama Campaign”, Human Events, 18 de fevereiro de 2008.