"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Monday, September 21, 2009

Os bandidos da minha terra gorjeiam até demais...

“No dia em que o crime se ornamenta com os despojos da inocência, por uma curiosa deformação que é própria do nosso tempo, é a inocência que se vê intimada a apresentar suas justificativas”. É de um ‘francês’ nascido em terras africanas, Albert Camus, a frase que uso para lamentar a vergonhosa atuação do governo brasileiro em defesa do italiano Cesare Battisti, que matou a tiros quatro pessoas: Antonio Santoro (agente penitenciário), Pierluigi Torregiani (joalheiro), Lívio Sabatini (açougueiro) e Andréa Campagna (policial), além de ter remetido à prisão perpétua, em cadeira de rodas, o filho de Andrea Campagna, atingido por disparos da pistola.

O amor brasileiro ao banditismo já não é novidade e desde muito tempo está aí, nas músicas, literatura e cinemas nacionais. Foi o espírito que moveu as pessoas que adoravam Leonardo Pareja e que colocaram a bandeira brasileira sobre o seu caixão, sob os louvores de aprovação da mídia nacional. Foi o espírito que moveu Moreira Salles, menos notável pelos seus filmes do que por sua proteção ao bandido Marcinho VP. O teatro de Chico Buarque, obras de Ledo Ivo, apoio presidencial às FARC’s, ao MIR chileno, rifa feita por deputado para pagar a fuga de guerrilheiro colombiano, música deste ou daquele pensador que estava feliz porque matou o presidente, ... e a lista vai crescendo. No teor, o discurso pateta de que bandidos são bons (ou, pelo menos, vítimas da sociedade) e a polícia e as instituições democráticas são o mal.

A tese é tão absurda que nem vale a pena citar nomes de pessoas que nasceram na pobreza e são exemplos de vida. Também não vale a pena dissertar sobre a distância de valores entre os crimes de corrupção dos homens do poder político e os crimes contra a vida humana dos assassinos e bandidos do “submundo”. Até porque muito dessa dualidade bem-mal pregada diz respeito aos opostos entre a vida do culpadíssimo cidadão comum que tenta sobreviver montando o seu próprio negócio (um burguês filho da puta) e o venturoso bandido que escapa do presídio e dá entrevista nas páginas amarelas da Veja contando como a polícia é mal treinada e equipada, para o orgasmo nacional.

No caso atual, o ministro da Justiça, Tarso Genro, abandona todo o decoro e critica o posicionamento do ministro Peluso, do STF, que não fez coro com o grupo da torcida organizada do assassino que, nas terras tupiniquins, atende pelas alcunhas de escritor e preso político. Enquanto a novilíngua usa palavras como “preso político” para induzir o traumatizado cérebro brasileiro a se identificar com as prisões políticas da ditadura militar.

Então, outro ministro pede vista do processo, numa manobra que parece o “ganhar tempo” para que o novo ministro do STF, que logo será indicado pelo presidente, venha cantar em uníssono em defesa do assassino, já com a ordem de Sua Excelência (sua sim, minha não) o presidente dessa bagunça toda, digo, da República.

Lembrando que logo teremos uma candidata à presidência cuja único grande feito na vida foi o assalto à casa da ex-amante e secretária do político Adhemar de Barros, onde o político, já defunto, teria deixado um cofre contendo muito dinheiro, que a atual ministra nunca disse onde guardou... Enquanto isso, eu vou lendo notícias do Brasil e minha gastrite vai se tornando em úlcera.

E, para continuar com a xaropada de citações, termino com essa de Rui Barbosa, brasileiro que nasceu no Brasil mesmo: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.


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