"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Tuesday, August 3, 2010

O feitico da Coreia

Joo era meu colega de time no IICD em Michigan no tempo de treinamento. Uma das pessoas as quais mais fiquei ligado. Um cara fantastico, que chegou no time um pouco atrasado porque ja tinhamos comecado o treinamento, meio perdido, sem saber ou ter o que fazer, mas que rapido conquistou um lugar de destaque. Foi o amigo mais chegado e o cara com quem mais aprendi nesse tempo.

Tinha uma personalidade que fazia com que fosse notado em qualquer lugar que chegasse. Mestre da comunicacao, uma vez me disse que, se era isso que fazia na Coreia (eh graduado em comunicacao), se era isso que escolhera pra fazer, teria que fazer e ser o melhor na arte de comunicar-se. Um dia, em fundraising, entrou numa agencia de modelos, parou no meu do salao, pediu a palavra e fez com que todo o salao ouvisse o que dizia. Logo todas as modelos vieram tirar fotos com ele e contribuir com dolares para a causa de Joo na Africa. Alias, foi ele que bateu o recorde de arrecadacao de fundos num unico dia de todos que tinham chegado ao conhecimento de qualquer pessoa na IICD. Ou seja, a propria headmaster da organizacao nao tinha ouvido falar de alguem que tivesse batido o recorde de arrecadacao de Joo. Se nao me engano, tinha sido algo como 900 dolares num unico dia (tenho que confirmar esse dado).

Ele tinha uma especie de lema de que deveria se desafiar a fazer coisas dificeis sempre, e buscar se superar nelas sempre. Foi isso que o motivou a ir a Africa. Coisas que pra nos eram dificeis, para ele era um desafio. Pedir dinheiro numa lingua estrangeira em que nao tinha fluencia, entrar nos lugares mais estranhos, largar a formacao academica e se meter na Africa, para Joo,tinham todas um sabor de desafio, de superacao. Dai que eu sempre o chamava de "the challenge guy".

Lembro que ele sempre teve problemas pra despertar cedo para os cursos matutinos. Alias, os tais morning courses nao eram interessantes ao ponto de dar a qualquer pessoa vontade de levantar cedo. A maioria fazia mesmo por obrigacao. E eu ja tinha tido uma discussao com a headmaster de que so sairia do meu quarto de manha se os professores passassem a preparar aulas e dar alguma pelo menos aceitavel. Bem, Joo nao tinha motivacao pra isso, mas alguma coisa que ele fez errado deu a direcao da escola o motivo de o chantagear em estar sempre nos morning courses sob pena de nao ir pra Africa. Foi a partir dai que, desde entao, se tornou praxe ele sempre bater na minha porta de manha, por a cabeca pra dentro do quarto e dizer: "wake up, dude!". Tipo de coisa entre amigos que senti falta quando ele, poucos dias antes de mim, voou pra Joburg.

Falo disso porque hoje resolvi instalar um editor de videos e colocar esse video que fizemos no youtube. Eis a historia: Uma noite qualquer em Michigan passei o filme da biografia de Noel Rosa, chamado O Poeta da Vila. Eh um filme bem inspirador, que mostra a trajetoria do garoto que larga a faculdade de medicina para ser cantor de samba, em busca do sonho e da realizacao do talento, do dom que sentia que tinha. 
Joo ficou tocado pelo filme e virou fa de Noel Rosa. Copiou todos meus mp3`s do cantor e ouvia quase como que a um mantra, dia e noite. 

Um dia, entao, me diz que a sua musica preferida era Feitico da Vila (numa versao de Ney Matogrosso). Queria um novo desafio, aprender a cantar o samba em portugues. Eu o desafiei tambem. Nao toco violao, entao disse a ele que aprenderia tocar essa musica no violao para o acompanhar, caso ele aprendesse a letra do samba.

Devo dizer que nao foi facil. E numa coisa simples, aparentemente boba, uma musica qualquer, Joo transformou essa situacao num verdadeiro desafio. A todo momento batia no meu quarto perguntando sobre a pronuncia de uma palavra qualquer. "Arvoredo" foi a mais dificil dele entender e repetir. Ficamos nesse "arvoredo" por muitos dias...

Mas o cara conseguiu. E numa bela manha, durante a despedida de uma garota dinamarquesa que estaria voltando pra terra natal, Joo e eu fizemos isso que voces podem ouvir agora. 

Sunday, July 4, 2010

Farewell

De repente, uma conversa pelo Skype e toda uma multidao de boas lembrancas vem a tona. Custa nada compartilhar:

There is no hangover like Manica`s - http://www.youtube.com/watch?v=YdjDCfCLfmA

Thursday, January 7, 2010

Os diamantes de Manica

No meio de toda a pobreza da província de Manica, um lugar dá mostras de um rico crescimento. É o distrito que possui o mesmo nome da província, Manica. Desde que cheguei em Chimoio e conheci a região, é o único lugar que dá mostras de mudança, onde os prédios estão sempre em reformas, as estradas vão sendo melhoradas e carros de último modelo desfilam na avenida Eduardo Mondlane. Além disso, o mercado oferece uma grande variedade de produtos que não encontramos nos demais lugares da região, a maioria importados da Africa do Sul. E é interessante notar que cada vez que eu passei pelo distrito ele parecia diferente, parecia outro, dado o constante crescimento.
O motivo? Pela proximidade da fronteira com o Zimbabwe, o distrito é ponto importante na rota dos diamantes ilegais, principalmente daqueles retirados de Chiadzwa, na província de Manicaland, no Zimbabwe.
No ano de 2008, o governo de Mugabe expulsou os garimpeiros da área e assumiu o controle das jazidas, já que a polícia não vinha conseguindo fiscalizar efetivamente a extração dos diamantes. Nesse confronto, mais de 200 mineiros foram mortos e o Zimbabwe foi expulso do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, que fiscaliza o comércio de diamantes. Agora, os militares de Mugabe controlam as minas e forçam a população a cavar em busca dos diamantes, que se dirigem ao enriquecimento dos altos funcionários do governo zimbabuano.
Vários desses mineiros se arriscam, então, escondendo diamantes no próprio corpo e fazendo uma viagem através das montanhas para chegar à fronteira e vender no distrito de Manica por um preço muito abaixo da média global. Chamados de “mulas”, oferecem um diamante por um preço médio de 45 dólares o grama, valor muito inferior à média global.
Apesar da fraca fiscalização, nesse mesmo mês de dezembro foi apreendido com um único contrabandista 500 gramas de diamantes pela patrulha de fronteira de Machipanda, no lado moçambicano da história...


Quem passa pela fronteira tem uma idéia de como a fiscalização é ineficiente. Eu já cruzei essa fronteira 4 vezes e em nenhuma delas eu sequer tirei a mochila das costas. Nada me foi perguntado ou revistado e eu poderia estar levando qualquer produto de qualquer natureza que passaria sem problemas. Aliás, não seria uma má idéia estar levando alguns diamantes...
Um fato interessante foi que, na própria declaração de valores e bens em porte, quando da minha primeira entrada no Zimbabwe, eu declarei que portava 50 USD, mas, na verdade, entrava com um pouco mais (como ia pagar a passagem para o Egito, tinha algo em torno de 1000 USD na carteira). Quando fui pagar o visto, entreguei ao oficial uma nota de 50 USD (teoricamente, a única que eu possuía). Ele não aceitou aquela nota, porque tinha algo escrito com esferográfica. Eu, então, tirei 45 USD trocados da carteira, em notas de 20 e de 5, e o oficial não notou que isso contradizia o valor declarado na ficha que ele, naquele momento, tinha nas mãos.

Wednesday, January 6, 2010

Como Raulzito já dizia

"Dois problemas se misturam: A verdade do Universo e a prestação que vai vencer".

Depois disso não precisa dizer mais nada.

Bobby's Band, o ocaso

Já dizia a famosa frase teenager, tudo que é bom dura pouco mas é tempo suficiente para se tornar inesquecível. Para garantir que a frase não se engane, é sempre bom usar de algum meio para evitar o esquecimento. Foi assim que a Bobby's Band resolveu gravar algumas músicas que faziam parte do repertório. Foi bom, durou pouco e um firebox fez ficar inesquecível...

Ao contrário da primeira música gravada e já disponível no blog, a mixagem, dessa vez, não ficou nada boa (na verdade, ficou uma merda!). Mas como mistura pode também ser sinônimo de bagunça, a gente entende um sinonimo pelo outro e faz de conta que não viu (ou ouviu) nada. E, uma vez que todo o trabalho aqui é voluntário, a gente lembra da vovô dizendo que a cavalo dado não se olham os dentes. De qualquer forma, valeu a experiência e as músicas, mesmo sem a mágica da mixagem que faz até o Latino parecer bom cantor, dão uma idéia dos temas e dos ritmos da banda dos alunos da EPF.
Que agora segue:

1. Agradecemos a EPF:
Essa música nunca foi cantada em dois eventos diferentes da mesma forma. Foi feita para homenagear o município de Chimoio num evento cívico, depois mudou-se a letra numa homenagem à ONP (Organização Nacional dos Professores) e, finalmente, como num passe de mágica e letra-a-mais-letra-a-menos, estava feita especialmente para a festa de graduação. Mateus no violão, Nhamacha no bateria, Bobby no baixo e este escriba nos teclados, junto com o grupo de alunos nas vozes.

http://www.4shared.com/file/188258183/331a5690/Agradecemos_a_EPF.html


2. Minha EPF:
O nosso violonista Mateus, que toca também numa igreja da vila, trouxe essa música da igreja, alterou as letras e agora, ao invés de Jesus Cristo, é a EPF que morre de amores por todos nós. Em nome do DRH, da Humana e da EPF, amém.

http://www.4shared.com/file/188249659/e6f29993/Minha_EPF.html


3. Professores na sociedade:
Essa abaixo é a melhor prova de que técnico de mixagem não é bom em trabalho voluntário. Se essa música tivesse sido gravada ao vivo, sem mixagem, não ficaria tão ruim. Um exemplo é o saxofone. Ele usou um track que eu fiz pra testar o som, brincando com umas notas, desafinando, etc. Quanto ao track "oficial" do sax, ninguém sabe dar notícias. Além de ter misturado voz com improviso, voz de um track com voz de track vocal experimental... Um terror para qualquer músico, mas eu não posso deixar de publicar porque foi a única música escolhida em que eu toco saxofone. Mateus no violão, Bobby no baixo, Castigo na bateria e eu no teclado e saxofone.

http://www.4shared.com/file/189995204/9ccb39c9/Professores_na_sociedade_-_Bob.html


4. SIDA
O tema mais comentado na EPF no início me causava muita estranheza. Chego em Moçambique e vejo os alunos acusando a SIDA de matar jovens, velhos e crianças. Imagine o meu espanto quando uma aluna, numa peça teatral, acusa, aos gritos, a Sida de estar a matar todos naquele país. Logo a Dona Cida, aquela velhinha tão boazinha da minha cidade...
Mesmo quando soube que se tratava da malvada AIDS traduzida para a língua portuguesa, sempre que tocávamos essa música eu não conseguia conter um sorriso. Essa Sida é mesmo um perigo...

http://www.4shared.com/file/189005091/14f891d8/SIDA_-_Bobbys_Band.html


5. No Woman no Cry
Essa sempre foi, de longe, a minha preferida. A letra, que alterna inglês e shona, reclama a Deus, com um especial tom de tristeza, por ter criado o pobre. O trabalho de estragar a música feita pelo técnico de mixagem me deixou realmente chateado nessa música, porque eu esperava muito do trabalho final. Anyway, não se pode ter tudo nessa vida...
Mateus no violão, Castigo na bateria, Bobby no baixo e Rodrigo nos teclados.

http://www.4shared.com/file/190072822/16d3e9f5/no_woman.html