"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Thursday, January 7, 2010

Os diamantes de Manica

No meio de toda a pobreza da província de Manica, um lugar dá mostras de um rico crescimento. É o distrito que possui o mesmo nome da província, Manica. Desde que cheguei em Chimoio e conheci a região, é o único lugar que dá mostras de mudança, onde os prédios estão sempre em reformas, as estradas vão sendo melhoradas e carros de último modelo desfilam na avenida Eduardo Mondlane. Além disso, o mercado oferece uma grande variedade de produtos que não encontramos nos demais lugares da região, a maioria importados da Africa do Sul. E é interessante notar que cada vez que eu passei pelo distrito ele parecia diferente, parecia outro, dado o constante crescimento.
O motivo? Pela proximidade da fronteira com o Zimbabwe, o distrito é ponto importante na rota dos diamantes ilegais, principalmente daqueles retirados de Chiadzwa, na província de Manicaland, no Zimbabwe.
No ano de 2008, o governo de Mugabe expulsou os garimpeiros da área e assumiu o controle das jazidas, já que a polícia não vinha conseguindo fiscalizar efetivamente a extração dos diamantes. Nesse confronto, mais de 200 mineiros foram mortos e o Zimbabwe foi expulso do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, que fiscaliza o comércio de diamantes. Agora, os militares de Mugabe controlam as minas e forçam a população a cavar em busca dos diamantes, que se dirigem ao enriquecimento dos altos funcionários do governo zimbabuano.
Vários desses mineiros se arriscam, então, escondendo diamantes no próprio corpo e fazendo uma viagem através das montanhas para chegar à fronteira e vender no distrito de Manica por um preço muito abaixo da média global. Chamados de “mulas”, oferecem um diamante por um preço médio de 45 dólares o grama, valor muito inferior à média global.
Apesar da fraca fiscalização, nesse mesmo mês de dezembro foi apreendido com um único contrabandista 500 gramas de diamantes pela patrulha de fronteira de Machipanda, no lado moçambicano da história...


Quem passa pela fronteira tem uma idéia de como a fiscalização é ineficiente. Eu já cruzei essa fronteira 4 vezes e em nenhuma delas eu sequer tirei a mochila das costas. Nada me foi perguntado ou revistado e eu poderia estar levando qualquer produto de qualquer natureza que passaria sem problemas. Aliás, não seria uma má idéia estar levando alguns diamantes...
Um fato interessante foi que, na própria declaração de valores e bens em porte, quando da minha primeira entrada no Zimbabwe, eu declarei que portava 50 USD, mas, na verdade, entrava com um pouco mais (como ia pagar a passagem para o Egito, tinha algo em torno de 1000 USD na carteira). Quando fui pagar o visto, entreguei ao oficial uma nota de 50 USD (teoricamente, a única que eu possuía). Ele não aceitou aquela nota, porque tinha algo escrito com esferográfica. Eu, então, tirei 45 USD trocados da carteira, em notas de 20 e de 5, e o oficial não notou que isso contradizia o valor declarado na ficha que ele, naquele momento, tinha nas mãos.

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