"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Monday, August 31, 2009

Variações sobre o tema Desenvolvimento

Antes de tudo, é mister ressaltarmos que o Desenvolvimento econômico representa um anseio coletivo. E existe um anelo, possivelmente correto, de que a melhor maneira de aliviar as tensões sociais é promover o progresso econômico acompanhado da distribuição igualitária dos frutos deste progresso. Mas o que precisamos mesmo aprender é que não basta repetir reiteradamente a palavra Desenvolvimento, num afã de macumba ideológica. Planos não são feitiços, Papai Noel não é Ministro da Fazenda e não existe mágica em questões econômicas.
As preocupações desenvolvimentistas são, sim, louváveis e legítimas. Não restam dúvidas de que precisamos de estradas, de fábricas, usinas, agricultura produtiva, investimentos. Boa parte da população vive em condições subumanas de miséria e analfabetismo, sofrendo de doenças hoje facilmente curáveis.
Mas há que se pensar no que existe de concreto, passando da idéia ao esforço ordenado, sabendo, como Sancho Pança, que “del dicho al hecho hay gran trecho” ou como Confucio, para quem “o caminho de dez mil milhas começa com um passo”.

Não pode haver rápido progresso econômico sem que os líderes do país - em todos os níveis, políticos, professores, engenheiros, empresários, líderes trabalhistas, padres, jornalistas - desejem o progresso econômico do país e estejam dispostos a pagar o preço, que é a criação de uma sociedade da qual tenham sido eliminados os privilégios econômicos, políticos e sociais.

Não, não vou, aqui, culpar o imperialismo ou o colonialismo pelo subdesenvolvimento. Existe escasso fundamento na atribuição do subdesenvolvimento ao imperialismo colonizador - sobretudo se atentarmos para o fato óbvio de que o Desenvolvimento é mesmo um dos produtos mais característicos da civilização ocidental que é acusada de imperialista. Na verdade, se não fosse o colonialismo, o Brasil ainda seria a terra dos tupinambás, a Coréia ainda seria o Reino da Manhã Tranquila, a China seria o Florido Império Central. Queremos voltar à época dos reinos e impérios africanos do período pré-colonial? Creio que não. Os dois países mais atrasados da África são a Libéia e a Etiópia e foram os únicos a preservar sua independência durante o século do colonialismo. Nas palavras de Roberto Campos, “o anti-colonialismo desonera-nos, a um tempo, da responsabilidade de pensar, da obrigação de mudar e do sentimento de culpa”. Vale o negativo exemplo brasileiro que, mesmo depois de quase 200 anos, ainda reclama o fato de ter sido colônia portuguesa de exploração e nunca assume as ações próprias em ordem a buscar o desenvolvimento do país.

Não amo (nem odeio) os europeus nem nenhum dos países ricos, não sou a favor do imperialismo (venha ele de onde vir), e também não advogo um retorno ao colonialismo.
Muito contrariamente a tudo isso, defendo que esse período histórico deve ser superado, que os traumas sejam curados e que caminhemos, com as nossas próprias pernas, a via do desenvolvimento e crescimento da nação moçambicana.

Como disse o Cassius shakespeariano, na obra Julio Cesar, “men at the same time are masters of their fates; the fault, dear Brutus, is not in our stars, but in ourselves, that we are underlings”.


Baseado no livro Psicologia do Subdesenvolvimento, de Meira Penna



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