"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Thursday, August 27, 2009

Colonialismo de bajulação

Um fenômeno que afeta muito profundamente os africanos e causa enorme prejuízo é a bajulação estrangeira. O “branco” vem pra cá, agora com a antiga colonização terminada, com o mesmo ar de superioridade de antes, adicionando, desta vez, aquela cara (ainda superior) de piedade, distribuindo dinheiro e doações por onde quer que vá. As pessoas aqui, então, assimila essa relação de doador-beneficiário e aprende a sempre esperar presentes. Não precisam, por consequência, se preocupar com o desenvolvimento do seu lugar; bastam apenas esperarem os brancos com seus escambos.

A palavra ‘desenvolvimento’ vinda de um estrangeiro soa, por conseguinte, totalmente dissonante nessa relação de dependência que foi estabelecida. Enquanto isso, os africanos se destroem no alcool (já não falo só dos moçambicanos, porque essa situação é generalizada mesmo), sem empregos, sem capacidade de gestão de negócios, sem ao menos notar o rumo que estão tomando. Apenas esperam. Penelopeiam.

Para mim, essa relação de doador-beneficiário é nada menos que uma enorme falta de respeito ao povo africano. Uma assunção de que eles são pequenos demais, coitados demais, incapazes, por eles mesmos, de crescerem e alcançarem uma vida melhor.

Não pense que sou contra doações. Sou contra a política de doações, o vício e a bajulação. Pior que o sentimento de inferioridade é o sentimento de “coitadinho”. Sentimento de inferioridade, aliás, pode ser uma abençoada neurose. A obsessão germanizante de um povo em luta com o complexo de inferioridade gerou a filosofia de Fichte, Schelling e Hegel e a afirmação xenófoba do russismo contra a hegemonia franco-germânica produziu Dostoiévski, Soloviev e Lossky.

É triste ver crianças treinadas pra pedir dinheiro, não fazendo nada o dia todo que não seja pedir esmolas. É totalmente automático: “Estou a pedir cinco meticais”. Quando vêem brancos, então, correm na direção, com as mãos estendidas. E quem não se comove com uma criancinha negrinha e magrinha? Crianças que poderiam estar nas escolas aprendendo alguma coisa ou em qualquer outro lugar recebendo uma doação do qual nunca disporia: educação, formação técnica ou qualquer habilidade para a vida. No entanto, passam a vida como cenário de fotografias dos grandes humanitários despejando caminhões de ajuda.

Acatemos, então, a repreensão do Zaratustra de Nietzsche: “sois pressurosos em ajudar ao próximo e têm belas palavras para isso, mas eu vou digo que o vosso amor ao próximo é fruto do vosso mau amor por vós mesmos (...) desejareis seduzir o próximo por vosso amor e dourar−vos com a sua ilusão”. Aquilo que veio num intento de ajuda se reverte num mecanismo de maior escravidão e dependência. E se você é brasileiro, um analogia com a situação dos índios no Brasil ajuda a entender o problema. Aqui, pelo menos, ainda não assistimos ao suicídio de jovens sem motivos pra viver, obrigados ao confinamento em reservas, com muito alcool e pouca coisa pra fazer. Como vovó já dizia, “cabeça vazia, oficina do diabo”.

Pra finalizar, hoje ouvi um “cabeça-pensante” acusando de neo-colonialismo o investimento estrangeiro no país. Neo-colonialismo, meu saco, é continuar essa situação de abastecimento estrangeiro gratuito. Isso sim, impede o país de se desenvolver. Mantém a situação como está. Quer ajudar a África? Abra uma escola aqui! Distribua oportunidades.

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