"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Sunday, August 9, 2009

Rumo a Maputo...

Cheguei na Bahia! Mocambique tem a cara, o cheiro, a cor, o sabor, a musica e o ritmo da Bahia. Me explico. Vamos comecar do comeco...

Meu segundo dia comeca com o coreano acordando e perguntando porque eu nao tinha dormido. Esqueca tudo que voce aprendeu sobre a leveza asiatica, os samurais andando em papel de arroz sem deixar marcas. Esse coreano eh na verdade um trator de esteira, um elefante na plantacao de milho, um desfile da Mangueira. Acordou fazendo o maior barulho no nosso quarto e despertando todos os nossos roomates. O canadense cessou o ronco nesse instante, os africanos se mexeram na cama e apos uns 10 minutos o coreano deu por terminado a sessao furacao.

Apos as formalidades legais com a gerencia do “Hotel Rwanda” (aquilo era a cara do hotel do filme, com animais ampalhados e motivos “africanos” para agradar turistas) a fim de fechar a nossa estadia, deixei alguns papeis que Andrea e Ivana precisariam para pegar o onibus de Johanesburgo para Maputo e partimos no carro do hotel em direcao a estacao rodoviaria. La chegando, nos dirigimos ao guiche da empresa que nos levaria a Maputo, Intercape. Logo descobri que era a empresa mais barata e com o pior servico do transporte internacional de Africa do Sul. Com certeza o baixo preco foi fator decisivo para a escolha desta referida pela IICD para o transporte dos voluntarios. Alias, a vida de fundraiser nos Estados Unidos me ensinou a nao reclamar de qualquer coisa: esta levando pra Maputo? Tow pegando!

O servico ruim foi demonstrado pelo atraso do onibus. Na passagem dizia que deveriamos chegar com meia hora de antecendencia, a fim de otimizar o servico e principalmente porque teria uma pre-checagem do visto mocambicano. De fato chegamos 7:20 da manha, para pegar o onibus que sairia as 8:00. Ja no guiche, recebi uma cortesia da atendente, que, pelo fato de ter recebido a passagem dos 4 voluntarios num mesmo documento impresso da internet, queria discutir o fato de que a passagem estava para a segunda-feira. Eu expliquei que 2 das passagens estavam para aquele dia (as outras duas ja tinha sido trocadas por Trine na noite anterior, quando a informei que as colegas nao tinham chegado).

Ela quis discutir, mas de repente percebeu a situacao e disse “esta bom, esta bom, esta bom”, como quem diz “Basta!”. Eu ja notei ai certa impaciencia dos sul africanos na questao da prestacao de servicos. E ainda ia ver isso mais pra frente...

Terminada a impressao da minha passagem, me dirigi ao portao de embarque, onde fica um pequeno guiche para checagem de visto e passagem. Um fato interessante era que a fila era formada de bagagens, nao de pessoas. Cada um ia na fila, deixava suas bagagens a fim de marcar o lugar e sentavam em algumas cadeiras em frente ao guiche. Um mocambicano me disse para fazer o mesmo com um sorriso no rosto.

Passado alguns minutos, hora de passar pela checagem de visto e la se ve aquela atendente nervosa brigando para que as pessoas se comportassem na fila e esbravejando para quem nao portava visto. A mulher pegava mais ar que pneu de trator, como se diz no Ceara...

Depois de findo esse inicio de pandemonio, nos dirigimos ao lugar onde deveria estacionar o onibus. La chegando, me aproximei do mocambicano que tinha me ajudado na fila e comecamos a conversar, juntamente com outro que se aproximou. Foi meu primeiro contato mais profundo com o sotaque mocambicano. Ali fui entendendo alguns dos acentos e pegando algumas palavras e expressoes diferentes. Uma que me fez pensar um pouco mais foi a expressao usada quando eles nao me entendiam; ao inves de dizer “o que?”, eles diziam um “diga?”, com acento na letra “a”, algo como “digar?”. Parecia que eles queriam que eu continuasse o assunto, e nao que repetisse o que tinha dito antes. Assim levamos uma conversa que muito me agradou pela relacao de identidade e diferenca que eram evidenciadas. Falamos de cerveja, economia, mulher politica e lugares a se conhecer em Mocambique.

Conversa vai, conversa vem, fomos ficando impaciente com o onibus. Ja eram 8:30 e nada do onibus aparecer. Todas as outras empresas ja haviam partido e o nosso nem encostava. No que os mocambicanos diziam: “nunca mais chega!”. Ora, o que era aquilo? Nunca mais mesmo? Nao, era so uma expressao para “demora a chegar”. 8:45 foi a hora que vimos o nosso onibus encostar. Atraso que muito me pareceu uma heranca portuguesa, ja que sao coisas que se ve no Brasil. E um frio michiano.

Entao comecou outro pandemonio para entrar no onibus. Caramba, foi uma verdadeira muvuca. O povo atropelando, entravam no onibus, deixavam alguma coisa marcando o lugar (nao, nao tinha assento numerado) e voltavam para deixar as malas grandes no bagageiro. Entao, todos se atropelavam nesse vai e volta e o pessoal da empresa gritando por ordem. Sentamos, estrategicamente, na primeira fila, no segundo piso, em cima do motorista, em ordem a apreciar TODA a paisagem.

Eu pedi ao coreano que cuidasse que nossa bagagem fosse devidamente registrada e guardada e subi para marcar o lugar. Depois de algum tempo, olhei e na janela e vi o coreano no mesmo lugar, olhando atonito para a bagunca que faziam para despachar as malas. Talvez ele esperasse um momento de sossego para despachar a nossa. Desci la, peguei as malas e entrei na muvuca. Ate que tivemos nossa bagagem devidamente guardada. Entramos no onibus, esperamos a poeira baixar e iniciamos o processo de deixar Africa do Sul pra tras. Ainda na cidade, mais me impressionou como ali parece Goiania ou talvez seja so saudade da terrinha...

O cenario que se ve do onibus eh impressionante. Isso mesmo, de uma beleza impressionista. A vegetacao de savana tem um verde seco como no sertao brasileiro, mas com arvores retorcidas como no cerrado. Durante todo o trajeto, o selvagem alterna-se com a intervencao humana. Algumas plantacoes de banana, outras que nao identifiquei, algumas queimadas, e alguma coisa do esperado “bush” que faz a nossa cabeca quando pensamos na Africa. Fiquei atento para tentar ver se aparecia alguma leao, elefante, hiena ou outra fera africana. So vi cabras. Muitas cabras. Pela quantidade de cabras, suspeitei que nao teriam feras por perto.

Pela janela tambem pude visualizar a pobreza. Fizemos uma rota especial, mais distante da pobreza africana. Mas foi possivel ver barracos de lona no meio do nada, criancas vendendo qualquer coisa na beira da estrada, mulheres carregando galoes de agua na cabeca. Se voce conhece o sertao brasileiro, sabe do que estou falando... Saindo de Joahnesburgo, uma capital grande e desenvolvida, e passando por aqueles lugares, lembrei do filme Central do Brasil, onde esse mesmo tipo de trajeto eh feito, mostrando esses contrastes e as mudancas nas feicoes e situacoes das pessoas na medida em que adentramos no “countryside”.

Quase 2 horas da tarde, paramos para o almoco. Num boteco. Nao tinha nada mesmo naquele lugar pra se comer. E nao aceitavam dolares. Como eu nao troquei ainda os meus dolares, tive de me valer do meu amigo coreano, comprando pra mim um lanche no cartao de credito e recebendo a promessa de pagamento posterior. Porque devedor eh aquele que deve e credor eh aquele que cre que vai receber...

Aproveitando a deixa, trocamos de onibus, ja que este nao tinha autorizacao para cruzar a fronteira. Dai decorre que o atraso na saida nao foi pra cuidar de conseguir a devida autorizacao...

Troca bagagem, briga de quem nao gostou do novo lugar que pegou (eu ja tinha subido correndo pra garantir minha primeira colocacao) e uma situacao inusitada: o celular do motorista tinha sido roubado! Liga no celular, da na caixa, procura, ameaca de revista geral, mobilizacao, ate que alguem sugere que o motora busque no outro onibus, que tinha ficado. Ele voltou calado e satisfeito. Seguimos viagem.

O ponto maximo da viagem foi mesmo as conexoes que estabeleci com as pessoas, todas mocambicanas. Para minha sorte, na segunda seria algum feriado na Africa do Sul e varios mocambicanos que trabalham ali estavam indo pra casa ver a familia. O onibus estava lotado, com poucos turistas e muitos mocambicanos. Ao meu lado iam um rapaz e uma rapariga. Meu primeiro contato foi antes do almoco, quando perguntei a rapariga quando o onibus pararia para o almoco. Mas, por puro habito, perguntei em ingles. Ela me olhou aflita e pediu em portugues pra alguem traduzir pra ela o que eu queria. Sorri e fiz a pergunta em portugues. Ficando assim mais facil, ela me informou que pararia num restaurante que depois descobri ser o tal boteco. Na troca do onibus sentou ao seu lado esse dito rapaz. E entao ele passou a viagem toda entre me falar sobre o pais e em fazer o filme pra mocinha ao seu lado. Pelo que me disse, trabalhava com o que chamamos no Brasil de lanternagem. Em portugues mocambicano, nao lembro mais qual era a profissao do rapaz. Eh interessante como todo mocambicano com que voce converse vai te dizer como Mocambique eh o melhor pais da Africa, quica do mundo, e como voce eh privilegiado de estar indo para la. Para quem se considera um brasileiro nao praticante, esse amor a patria soa muito diferente.

No banco de tras estava um rapaz muito simpatico com sua mae. Ele ficou feliz por saber que eu estava indo pra trabalhar numa OnG, pra ajudar o pais, tal e coisa. Quando ele contou pra mae, ela nao pareceu do mesmo agrado. Ouvi-la dizendo que “essas pessoas nao se importam conosco”. Ele me passou o fone do seu irmao gemeo que trabalha numa OnG tambem em Chimoio, a minha cidade. Enquanto isso, na poltrona do lado, o rapaz fazia seu filme pra mocinha...

Todos perguntavam porque o “meu amigo” era tao calado. Expliquei que ele ainda nao falava portugues em ordem a entabular uma conversa, mas que ja comecava a entender as coisas. Como ninguem ali, pelo visto, falava um bom ingles, desistiram da preocupacao com o coreano rapidamente.

Hora de cruzar a fronteira. A mulher disse no microfone para que todos se aprontassem pois, como estavam vendo, a “bicha estava longa”. Eu rapidamente olhei pra frente na busca de um travesti de 2 metros de altura. Mas ela estava se referindo a fila. Uma imensa fila de carros estavam engarrafados na fronteira. Eu contei ao meus ja intimos amigos o que isso significa no Brasil e todos saimos rindo em direcao a bicha.

La chegando, depois de andarmos na bicha por uns 100 metros, entramos num processo de varios momentos onde tinhamos que fazer a mesma coisa. Foram necessarios pelo menos 5 ou 6 postos onde pessoas chegavam o nosso visto. Mas nao pense num posto como posto oficial. Era apenas lugares no nosso trajeto onde um grupo de funcionarios publicos checavam nosso visto e nos deixavam continuar.

Apenas 1 deles era de fato um posto onde o passaporte foi previamente carimbado como de saida de South Africa. Depois de mais alguns funcionarios checando no caminho, entramos mesmo numa sala onde se daria a recepcao ao pais pelo carimbo oficial no passaporte.

Pegamos outra bicha ali e fomos na direcao de ter os nossos passaportes carimbados. Taxa de 3 dolares, algumas perguntas sobre o Brasil e o oficial me mandou em direcao a outro oficial, que chegou algumas coisas num computador que por algum milagre ainda estava funcionando. Ele me sugeriu fortemente que provasse das mulheres mocambicanas e ensinasse o meu amigo coreano o portugues para que ele tambem pudesse fazer isso. Sorri e traduzi pro meu companheiro. Como somos ambos rapazes comprometidos, nao iremos acatar a sugestao do nobre oficial publico.

Dali saimos na busca do onibus, que deveria ter atravessado. Esse trajeto foi cheio de imagens mocambicanas de criancas vendendo quaisquer coisas, homens bebendo em barracas e cambistas oferendo metical, a moeda local. Procurei ali uma casa de cambio e, como nao encontrei, nao troquei meus dolares, o que logo me faria me arrepender por nao ter trocado com algum cambista. O fato foi que nao quis mostrar dolares no meio de tanta gente aglomerada. Mas, pior que isso, fiquei sem meus meticais.

Apos adentrarmos no onibus, o rapaz do lado tinha tomado algumas cervejas na espera e estava mais confiante de continuar fazendo o filme para a mocinha. Eu sorria do seu esforco inutil e ele me piscava os olhos, confiante. Enquanto isso, eu tive uma otima conversa com o meu companheiro do banco traseiro. Ele me disse muita coisa interessante sobre Mocambique, Africa e etc. Ali realmente pude aprender coisas validas sobre o pais e sobre a cultura desse povo. Realmente inteligente e professoral o meu companheiro.

Aos poucos fomos nos aproximando da zona habitada, com o rosto de pessoas sofridas e barracos de lonas dando sinais de alguma cidade por perto. Chegamos em Matola, uma cidade ao lado de Maputo, onde, depois descobri, fica o bairro de Machava, lugar da sede da ADPP onde agora estou. Como nao sabia que ali ficaria mais perto de onde deveria ir, desci apenas para conhecer o lugar, enquanto os passageiros que ali ficariam desciam e procuravam suas malas numa carroceira atras do onibus.

Logo vi um grupo de criancas vendendo amendoins e ovos na pequena estacao. Ao verem a minha desemelhanca com o local, vieram correndo oferecer seus produtos. Conversei e brinquei um pouco com eles, explicando que nao tinha moeda local e nao poderia comprar nada. Perguntei sobre a escola, sobre a familia e ouvi todo o obvio: estudavam de manha, vendiam coisas na rua para complementar a renda familiar. Estes disseram que estavam na escola, mas a hesitacao em me dizerem da serie ou classe me fez duvidar. Meu coracao amou demais aqueles garotos. Eles me ensinaram algumas palavras no dialeto local, brincaram um pouco comigo e, no final, dei alguns centavos de dolar em troca de um bocadinho de amendoim.

Ali estavamos deixando o Mocambique geografico e entrando no Mocambique humano. Logo que o onibus saiu novamente, fui vendo as pessoas, as casas, os bares, os mercados, as igrejas, as luzes, os carros, etc. Nos olhos de gente sofrida vi toda a euforia e alegria de quem tem a vida a celebrar. Tudo em Mocambique eh muito vivo, muito energico, muito euforico! Vi pessoas dancando nas ruas, mulheres correndo, homens sorrindo, casais dancando em plena calcada! Eu tinha uma leve desconfianca que estava pra me apaixonar por esse lugar...

Matola (bem como Maputo) eh a cara de qualquer cidade um pouco maior do interior do norte do Brasil. Eu me sentia em casa. Novamente aquela sensacao de identidade e estranheza. Poderia ser qualquer cidade da Bahia, Tocantins, Para, Maranhao, Rondonia.

Deixando Matola, logo entramos em Maputo, a capital. Cidade grande, de certa simplicidade, com ares de quem quer crescer mais e desenvolver. Lembrei o quanto o pais eh novo, recem-independente de Portugal, mas ja com os sinais da auto-gestao, com obras de construcao civil por toda parte. Entramos no centro da cidade, com aquele ar de cidade que cresceu desordenamente, segundo o bel-prazer dos seus ocupantes.

Descemos em algum lugar que chamaram de estacao, o que na verdade era apenas um bar e um guiche da empresa (que nao mais precisava demonstrar a falta de profissionalismo). Antes de descer do onibus, visualizei uma disputa de 2 taxistas pelos que lhes pareciam os melhores clientes. Logo o meu companheiro de viagem estava ao pe do ouvido de um dizendo da existencia de um brasileiro e coreano e nos apontando. Quando desci, comecaram a brigar por mim. Eu peguei aquele que o colega tinha conversado e fomos em direcao a Machava, para a sede da ADPP, onde estavamos sendo esperados.

Antes de embarcar, porem, lhe perguntei o preco da passagem, ao que ele disse 20 dolares. Trine tinha me dado 50 dolares para o taxi, dizendo que seria do meu e do Moa, 25 pra cada um. Entao, por 20 tava sendo um bom negocio. Uma vez dentro do taxi, primeiro o taxista se pos a deixar um amigo em casa, antes de nos levar para o nosso destino. Depois, foi a vez dele tentar abastecer o carro. O fato foi que nenhum posto de gasolina por perto estava abastecendo. Segundo ele me explicou, as gasolineiras queriam aumentar o preco e o governo nao aceitou, o que resultou nessa especie de boicote por parte dos vendedores.

Depois de alguma procura, encontrou-se um posto abastecendo e voltamos em rumo ao destino final. O motora dirigia ouvindo uma radio portuguesa, que narrava a morte de um ator portugues famosissimo mundialmente que eu nunca tinha ouvido falar. Alem disso, respondia as minhas perguntas sobre a cidade e o pais, com muita pouca propriedade em relacao a historia, mas bastante conhecedor dos pontos turisticos e locais que eu deveria visitar.

Depois de 15 minutos, estavamos na sede da ADPP. Depois de receber a atencao do guarda que cuidava do portao, me voltei para pegar a bagagem e pagar o taxista. Foi quando fui informado que nao custaria 20 dolares, mas sim 30. De fato, eu deveria ter cara e sotaque de turista a ser enganado. Mas pra merda, que eu sou brasileiro e a gente faz parte da turma que engana. Pra cima de mim nao, po!

Tive uma discussao seria com o motorista, onde deixei bem claro que nao ia pagar esse valor, principalmente pelo desaforo e a ma-fe. Repeti as palavras do sacana me informando o valor e perguntei se eu tinha ouvido errado. Ele disse que na verdade deu mais. Meu ovo que deu mais. Eu ja tava com a voz empostada e o senhor se recusava a ir embora. Eu disse que chamaria a policia, que nao pagava 30 nem morrendo e o tal senhor nao arredava da oferta. O sacana ainda ficou investigando se meu 20 dolares era “original”. “Meu amigo, esse dolar veio dos Estados Unidos ontem”, disse o cliente ofendido.

No final, com a minha vontade de despedir o sacana, tirei 5 dolares do bolso e falei pra ele pegar e dar o fora. Eu ja tava falando mais grosso que baixista de coral, mais bruto que os pe da burra, mais carregado que caminhao de madeira. Nao sei se foi a voz ou o dolar adicional que fez com ele se desse por satisfeito, mas entrou no carro e foi embora, feliz por ter feito mais um turista de trouxa...

Cheguei na casa dos DI. Encontrei logo o nosso teamate KBS, da Coreia. Ele tinha vindo para Africa no inicio de julho e ja tinha viajado por toda South Africa e agora descansava de um stress recem ocorrido: assim que chegou em Maputo, um dia depois de ter mandando um email para o nosso time dizendo que Africa nem era tao perigosa assim na questao dos furtos, ele teve seu laptop e camera roubados dentro do quarto. Uma pessoa entrou, disse pra ele ficar quieto e entregar tudo, ao que lhe foi concedido. Ele tinha a esperanca que Moa lhe trouxesse um computador dos EUA, mas como nao tivemos acesso aos carros da IICD na ultima semana em Michigan, nao foi possivel comprar o aparelho.

Passei a conhecer as pessoas que aqui estao: um rapaz da Suecia que vai trabalhar na escola vocacional de Maputo, uma garota da Alemanha tambem recem-chegada e um espanhol que esta em tempo de deixar o projeto, alem de uma coreana e uma japonesa vindas de Massachussets, do time de fevereiro. Tempo de tomar aquele banho, achar um lugar pra dormir e conectar a internet pra dizer “cheguei bem” e “te amo” pras duas mulheres da minha vida (mae e namorada).

Logo veio o responsavel pelos DI’s se apresentar (como ele se chama mesmo?) e nos dar o salario de agosto. Como chegamos hoje, dia 09, recebemos 3.300,00 meticais, com o desconto de uma semana. Entao, fomos eu, o KBS e o Moa, procurar alguma coisa pra comer. Fomos num posto de gasolina que estava fechado e so atendia pela janelinha. Sem chance de escolher comida assim, meu amigo! Perguntei onde tinha um lugar pra comer e o dono me apontou uns arbustos e disse que depois daquela escuridao tinha uma luz, onde me serviriam uma janta reforcada. Para la nos dirigimos e eis que encontramos um bar, com algumas pessoas sentadas, alguns numa sinuca, no mesmo estilo que voce veria numa viagem pelo interior do Brasil.

Quando me aproximei do balcao, vi numa mesa o nosso querido TG, que tinha acabado de nos pagar o “salario”, tomando uma cervejinha. Se vc ainda nao sabe, eh uma regra da Humana que ninguem, TG (professor / team leader / project leader) ou DI (voluntario), pode beber durante o periodo em que estiver a servico da OnG. O nosso TG fez de conta que nao tinha nada na sua mesa, nos comprimentou entusiasticamente e voltou a se concentrar naquele copo. Eu pedi um frango assado e uma Coca de garrafa de 1 litro (pra continuar me sentindo num boteco brasileiro). KBS e os recem chegados colocaram as fofocas de Michigan em dia, terminei o frango e fomos andar um pouco.

Foi ai que realmente o lugar me conquistou. Foi entao que a baiana Mocambique se desnudou diante dos meus olhos. Um grupo vinha dancando e cantando, comemorando qualquer coisa que o meu deslumbramente impediu de ir perguntar. Pessoas andando nas ruas, sorrindo, meninos correndo, raparigas mostrando os dentes e todo o remelexo da mulatada. Isso, mulatada. Mocambique tem, obviamente, maioria negra. Mas os negros nao sao como os de Africa do Sul. Aqui as pessoas se misturam. Aqui eles sao mulatos tambem. Tudo eh uma coisa so. E sao lindos!

Toda aquela musica encheu meu coracao de extase. Eu queria ficar e dancar junto, nao importando qual fosse o motivo da comemoracao. Os coreanos queriam comprar alguma coisa e ir embora. Se eu soubesse como voltar de onde estavamos, com certeza ficaria. Ja era hora avancada na noite e eu queria mais daquela euforia. Cara, eu vou amar esse pais!

Por ultimo, assim que voltamos para ADPP, chegaram Raul, amigo que fiz em Michigan, do time de agosto passado, juntamente com um espanhol. Tinham chegado naquele instante do Zimbabwe. Tinham deixado a ADPP com a desculpa de alguma investigacao na comunidade e conserto de computadores num outro projeto e foram desbravar o Zimbabwe. Voltaram contando muitas historias, dentre terem dormido no meio do mato dentro de uma reserva florestal cheia de animais selvagens, ter tocado num leao, passeio no Victoria Falls e toda a aventura que envolveu uma viagem sem planejamento para o Zimbabwe, sem a autorizacao e ciencia dos TG’s e cobertura dos companheiros DI’s. Depois de conversarmos bastante, tomarmos algumas cervejas quentes e comer amendoim, depois das 4 da manha, cada um foi encontrar seu pedaco de colchao e apenas ficou este escriba, ainda sem sono por causa da mudanca de fuso.


E foi manha e noite do segundo dia...

1 comment:

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