"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Tuesday, August 25, 2009

Suposições para uma psicologia coletiva de Moçambique

O continente africano, desde tempos imemoriais, assistiu a composição, apogeu e declínio de vários impérios dentre as tribos que o habitaram.
Destes, o segundo maior império no séc. XIX, Império de Gaza, dominou boa parte da região onde hoje é Moçambique, desde o rio Zambeze até o rio Maputo, tendo seu apogeu iniciado no ano de 1828. Shoshangane, um ex-general zulu que se revoltou contra o famoso imperador Chaka Zulu, fugiu para o norte em direção onde hoje é Moçambique, dominando os povos daquela região e formou, então, o seu próprio império. Quando ele chega na região onde fez a sede do império, Shoshangane expulsa os portugueses daquela área, matando a maioria deles.
Aos outros reis da área, este imperador cobrava impostos, principalmente na forma de marfim, que era comercializado com os portugueses estabelecidos mais ao norte. Comercializavam também escravos, normalmente vencidos nas batalhas, que, vendidos aos portugueses, eram enviados principalmente para as Americas.
A dinastia dos imperadores de Gaza dominaram um território maior que a Península Ibérica (Portugal e Espanha juntos), quase metade do que hoje é Moçambique, exercendo forte influência sobre toda a região ao redor, numa estrutura política semelhante ao sistema feudal europeu.
A grandeza deste império foi tão grande que ainda hoje os portugueses escrevem essa 'história' com rancor, atribuindo, inclusive, todo esse poder a uma aliança com a Inglaterra. De fato, os portugueses, nesse período, nunca adentraram seu controle nessa região, não obstante a Conferência de Berlim ter determinado aquela área ao controle português. Com exceção de pequena parte da Zambézia e da Ilha de Moçambique, a soberania portuguesa era meramente nominal e os potentados negros e mulatos escarneciam-na impunemente.
Ngungunhane, o Leão de Gaza, foi o último imperador deste império e seu reinando estendeu-se até 28 de Dezembro de 1895, dia em que foi feito prisioneiro pelo português Joaquim Mouzinho de Albuquerque. Por ser já famoso na imprensa mundial da época, os portugueses não o fuzilaram. Antes, foi desterrado para os Açores, onde se torna uma espécie de atração turística, vivendo o resto da vida a fazer cestos e caçar na ilha onde viveu até morrer por hemorragia cerebral em 1906.


Fiz essa pequena narração sobre o passado do país para “dar pano pra manga” numa discussão da psicologia coletiva moçambicana. O fato é que, desde a sua independência até os dias de hoje, Moçambique possuiu 3 presidentes, que foram Samora Machel, Joaquim Alberto Chissano e, atualmente, Armando Guebuza. Um fato interessante sobre estes homens é que todos são oriundos da região que sediou o império africano de Gaza. Os dois primeiros nasceram na província de Gaza e o último é de Nampula, mas viveu em Maputo a maior parte da sua vida. Parece existir, no imaginário popular moçambicano, uma referência ao comando de Gaza, tanto numa forma de resgatar a grandeza do passado quanto no sentido de uma herança arquetípica de submissão a Gaza. Mas isso é assunto pra uma pesquisa mais profunda...

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