"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Sunday, August 16, 2009

Os vetustos pintores

Hoje fomos visitar as pinturas rupestres de Chinhamapere, no distrito de Manica. Segundo informações da nossa guia, elas possuem 25 a 27 mil anos de existência e são consideradas sagradas pelos moradores da região.
Pegamos uma chapa pela estrada que vai pro Zimbabwe durante pouco mais de 30 minutos, que dividi entra admirar a paisagem e tirar uma soneca. Poucos quilometros após Manica descemos numa pequena comunidade onde deveríamos encontrar as tais pinturas. Além deste escriba, estavam a goiana Grazi, o coreano Moa (meu companheiro de todas as horas), Kuda do Zimbabwe, e a brasileira Isabel, que está em Chimoio dando uns treinamentos para profissionais de saúde.
Antes de subirmos o pequeno monte onde se encontram as pinturas, precisávamos pedir autorização na machamba (pequena chácara), para uma velhinha que se apresentou como descendente dos antiquíssimos pintores. Ali mesmo na sua palhoça ela nos pediu uma pequena contribuição e reclamou que deveríamos tê-la avisado com antecedência da nossa vinda, pois assim ela não estaria de porre naquele momento...
Assim, empreendemos a nossa subida do monte, num corta-mato (atalho) acidentado e cheio de pedras. A velhinha ia num pique impressionante, de deixar o nosso korean soldier pra trás (Moa, nosso amigo da Coréia, como todo conterrâneo, serviu o exército, e possui um preparo físico dos diabos!).
Primeiro visitamos um lugar onde ela nos informou ser onde os antigos cozinhavam cerveja. Depois nos mostrou uma fonte de água que nunca seca, mesmo na pior estiagem. Depois, o lugar de reunião dos antigos produtores de cerveja, onde o fruto do trabalho era, com muita alegria, repartido... Me pareceu mesmo um lugar propício a se tomar um porre...
Então nos voltamos ao clímax da nosso empreendimento, as pinturas rupestres. Antes, ela nos advertiu que não mais poderíamos tirar fotografias, a não ser com autorização dos espíritos. Como nenhum apareceu para dar a deixa, continuamos subindo ao topo do monte, onde estariam as gravuras.
Quando já avistávamos a pedra onde estavam as pinturas, a nossa guia nos pediu para aguardarmos neste lugar e, enquanto tirava os sapatos, nos avisou de que iria pedir autorização aos espíritos. Após alguns minutos ela nos fez sinal para que subíssemos.
Chegamos então às pinturas rupestres. Ainda com um ar reverencial, ela pediu que aguardássemos um pouco mais enquanto fazia uma oração aos espíritos. Tirou um manto amarrado à sua capulana (tipo de vestimenta feminina), cobriu a cabeça, ajoelhou num pequeno altar abaixo das pinturas e disse suas palavras na língua nativa por alguns minutos.
Após este ritual, fomos informados que os espíritos pediam outra contribuição... E lá vamos nós, contando o nosso mirrado dinheirinho de voluntário. Meticais no altar, os espíritos, pela voz de seu oráculo, nos informou que poderíamos tirar fotos. Então a nossa guia nos explicou mais sobre as pinturas, respondeu algumas perguntas e ali nos detivemos por alguma meia hora.
As pinturas retratavam basicamente, segundo nos explicou a senhora, a vida cotidiana daquela comunidade antiga. Ali estavam representados os guerreiros da tribo, outra figura mostrava um grupo de caçadores ao redor da sua presa, mais a frente pudemos identificar um grupo de dançarinos e assim por diante. Algumas gravuras estão impressionantemente bem preservadas. Outras estavam fossilizadas, cobertas de borrões e quase que não se podia visualizar nenhum traço.
Devo dizer que senti uma certa emoção diante daquele testemunho dos tempos pré-históricos. O traçado na rocha que desafiou o tempo e se manteve como sinal de um período do qual pouco sabemos sobre, proporcionando-nos uma visão das mentes daqueles homens, seus costumes e cotidiano, que nenhum outro tipo de material de origem arqueológica permite. Tudo ali, diante dos meus olhos!

1 comment:

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