"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Friday, August 14, 2009

Chapa e boléia

Falando em táxi, tinha me esquecido de escrever sobre a “chapa”. Ou escrevi e me esqueci. Como não vou voltar as páginas pra descobrir, digo de novo ou pela primeira vez.

Chapa e boléia foram as primeiras coisas que os voluntários que aqui já estão me contaram sobre Moçambique. Chapa é uma van que faz o transporte urbano, normalmente de uma empresa chinesa (que você pode ver por todos os caracteres chineses que você vê na van), com assento para 15 pessoas, mas que nunca tem menos que 20 passageiros. Normalmente leva de 25 a 30 pessoas.

Boléia é o “jeito voluntário” de ir: a carona. À beira da estrada, pernas à mostra, dedo polegar apontando para a frente no movimento da punheta.

Minha primeira chapa foi em Maputo. Fui ao Shoprite, o Wal-Mart moçambicano. Tem de tudo nessa espécie de mall. De tudo mesmo! E todo tipo de gente, muito estrangeiro e gente cujo fenótipo você não esperava encontrar por aqui. Eu encontrei um daqueles gordos americanos, estoque de hamburguer, cenário interessante num país de tantas privações. Para quem vive cercado pela vizinhança do meu projeto, esse “templo do consumismo” (pra não perder o chatíssimo discurso da New Left) parece uma nota dissonante na melodia do país.

Pois bem, eu dizia que peguei minha primeira chapa. Quando a van parou e fomos informados que iriam na direção do Shoprite, olhei para dentro e hesitei, perguntando: “Tem vaga?”. Torci para que ele dissesse que não, que deveria pegar o próximo. Mas ele disse: “Tem, entra!”. Resolvi confiar naquela voz que denotava tanta experiência no transporte urbano moçambicano. Deveriam ter quase 30 pessoas ali dentro. Eu vi uma vaga entre dois acocorados e subi. Com o “balanço do busão”, ao término da viagem, eu estava de cócoras, com a bunda virada pro fundo da van e a cabeça quase colada no volante. Embaixo de mim uma garota com uniforme de alguma escola. Ao lado do motorista, uma senhora daquelas das ancas gordas e vestida de capulana fazia o meu campo de visão esquerdo. Eu torcia para não espirar por um resfriado que tinha adquirido em South Africa. E assim, alguns 20 minutos depois, fui informado da chegada ao meu destino final.

Respirei fundo e entrei naquele templo do consumismo-capitalista-opressor-desumano-explorador-blá-blá-blá...

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