"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Tuesday, August 18, 2009

Escolinha da vila

Hoje pela manhã fui visitar uma escola pública da comunidade. Aqui todas as escolas possuem como nome alguma data. Então, como não lembro que dia era aquele, vamos dizer que foi Escola Primária Completa 05 de Outubro, em homenagem ao aniversário do meu pai e aniversário da nossa carta constituicional brasileira...
Essa é uma das escolas onde os futuros professores da EPF vão dar aulas em ordem de estágio. Nhama, um dos alunos, deu aula hoje e me convidou para assisti-la. Essa aula ele dividiu com uma colega também da EPF.
A escola, como todas da região, estava numa situação muito precária. As salas faziam parte de uma construção muito antiga, com o teto que indicava poder ter sido algum armazém muitos anos atrás. As paredes davam testemunho dessa ancianidade pelas rachaduras, uma pintura que há muito deixara de desbotar e pedaços do reboco faltando em todo o derredor das mesmas.
As carteiras, daquelas que devem receber duplas de alunos, estavam, em sua maioria quebradas. Os alunos se viram e usam pedaços de outras carteiras inutilizadas, a fim de fazerem o seu assento ou a bancada de livros. Em cada uma que poderia receber assento, 3 alunos se apertavam. Alguns alunos sentavam em apenas um pequeno pedaço de madeira de 5 centímetros de largura, suportado pela armação de alguma cadeira quebrada. Uma aluna que chegou um pouco atrasada sentou mesmo apenas numa armação de outra carteira quebrada, equilibrando-se no canto da carteira sem assento, até que os coleguinhas apertaram e a deram um lugar mais confortável. No fundo da sala, uma coleção de peças de carteiras quebradas dão testemunho de que pouco foi feito para melhorar o conforto dos alunos, amontoadas que estão desde muito tempo. O frio completava a situação de dificuldade. Poucos alunos estavam devidamente vestidos para o frio que faz em Chimoio. A maioria veste roupas já degradadas pelo tempo, em farrapos mesmo. Uma aluna que sentou perto de mim, vestida uma blusa muito fina, tremia durante toda a aula.
As crianças, num total de 20, com faixa etária de 12 a 13 anos, a maioria homens (Moçambique está em processo de emancipação e inclusão feminina, também nas escolas), aprenderam hoje sobre adição de frações no primeiro período de aula. No segundo período viram como funciona o aparelho respiratório e conheceram as partes em que ele é dividido, por meio de um cartaz desenhado pelo professor e apresentado aos alunos. Após o intervalo, interpretaram um texto do folclore moçambicano, que conta a história de uma ave da região chamada “mocho”. A seguir, tiveram aula de artes. Os alunos, apesar da idade, estavam muito comportados e participativos. Nas escolas daqui o aluno, para falar, precisa pedir autorização primeiro, depois se levantar e então expor algo ou responder alguma pergunta. Nessa sala os aluninhos brigavam para responder e a cada pergunta, de pronto, pelo menos 3 ou 4 levantavam as mãos.
Uma professora da escola fica responsavel por avaliar os alunos diariamente. Esse também é o papel dos DI, mas como eu estava só de visita, não fui com essa intenção crítica. De qualquer forma, a professora entrou na sala por 10 minutos, e, talvez motivada pela minha presença, deu muito esporro nos professores estagiários, principalmente pela forma como eles organizaram seu plano de aula. No final ela perguntou se eu tinha alguma coisa pra adicionar, eu elogiei o fato dos alunos estarem muito motivados e participativos e teci alguns elogios sobre a didática dos professores, material didático de apoio, etc. Deixei para fazer algumas críticas mais profundas informalmente, quando estávamos regressando para casa.
No final, foi muito interessante aquela experiência. Pude perceber que mesmo sem muitos recursos e infra-estrutura, os professores da EPF estão sendo capazes de motivar os alunos e dar boas aulas, recebendo uma resposta positiva dos alunos.

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