"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Sunday, August 23, 2009

... e tem a dor.

Depois que você se acostuma com toda a euforia do lugar, passa a olhar melhor para as pessoas. Andando pelas vilas, antes de me focar, eu apenas era o muzungu que respondia a insistentes “bom dia”. Depois, passei a olhar as pessoas nos olhos e uma coisa muito forte aconteceu comigo. Num recôndito mais profundo que a música existe uma dor. Dor de um povo sofrido. Sofrimento da guerra, da fome, das doenças, da morte. E sofrimento da ausência de sentido.
Hoje, andando pelo bairro de Nhamatanda, via os olhos deste sofrimento. Andando pelas ruas, mulheres esqueléticas e uma imagem que me chocou. Uma criança com a barriga inchada pelos vermes, deitada no chão de uma pequena varanda da casa de palha. Os olhos abertos já não tinham o brilho com o que identificamos o olhar de uma criança. Os irmaozinhos brincavam por perto enquanto ele olhava desinteressado. Desinteressado da brincadeira, desinteressado da infância, desinteressado de um sorriso. Apenas dor.
Mais à frente, um garoto de 10 ou 11 anos fabricava tijolos com argila no quintal de casa. Vários tijolos amontoados testemunhavam seu tempo naquele labor. E a infância passando lá fora...
A falta de sentido? Você a encontra nos cantos das ruas, bêbadas, caídas, sujas, abandonadas. O alcool é o refúgio maldito desse povo que sofre. Vêem a vida passar pelos olhos vermelhos e corpo sujo pelo vômito alcoolico e, cambaleantes, se dirigem a lugar nenhum.

Esperança e sentido são suas maiores fomes.

No comments:

Post a Comment