"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Monday, December 31, 2012

Mário Ferreira dos Santos - Inquérito pelo Pe Ladusans


Mário Ferreira dos Santos - Inquérito - Vídeo Dailymotion

Trecho do site Revista Filosofia:


Esta entrevista foi publicada no ano de 1976, em “Rumos da Filosofia no Brasil” — coletânea organizada pelo Padre e Professor Stanislavs Ladusãns S. J., Edições Loyola —, onde foram registrados os depoimentos de 27 autores e pensadores que traçam um panorama geral dos caminhos da Filosofia no Brasil da época. O autor, Pe. Stanislavs Ladusãns (1912-1993), nasceu na Lituânia, doutorouse em Filosofia em Roma. Veio ao Brasil pela Ordem dos Jesuítas; aqui fundou a Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, em 1970, e o Centro de Pesquisas Filosóficas em São Paulo.
Ladusãns, ao recomendar a obra do filósofo Mário Ferreira dos Santos às Academias e Sociedades de Filosofia da Europa fez a seguinte declaração:
“Estou realizando uma pesquisa científica sobre a situação atual do pensamento filosófico brasileiro, a fim de constatar, com objetividade, em que ponto se encontra a Filosofia hoje no Brasil, como ela se desenvolve, que metas está visando e que objetivos deve atingir. Durante esta pesquisa científica, ainda em curso, descobri um Pensador de extraordinário valor - Dr. Mário Ferreira dos Santos, nascido no dia 3 de janeiro de 1907 e falecido no dia 11 de abril de 1968. A descoberta deste filósofo solitário, dedicado a uma intensa atividade de pensamento e produção literária, surpreendeu-me não pouco e proporcionou-me a grata oportunidade de entrar em frequentes contatos pessoais com ele, homem que ainda não foi descoberto no Brasil”...

Tuesday, December 18, 2012

Introdução ao livro O Dinossauro, de Meira Penna


Primeira parte da Introdução ao livro O Dinossauro, de J.O. de Meira Penna. Leitura obrigatória!


"O mundo evolui e a humanidade se transforma, enquanto sofre uma das mais profundas crises da história. Podemos repelir algumas das novidades que a civilização tecnológica moderna nos proporciona. Podemos temer, com razão, sua destruição cataclísmica. Seu suicídio. Mas temos sempre que enfrentar a realidade do moderno, o que quer dizer do futuro na prenhez do presente. O futuro está aberto e a história é imprevisível. O futuro é sempre criado, é sempre novo, sendo o risco o preço da mutação evolucionária.
Até princípios deste século, os que se negavam a aceitar as transformações aceleradas da realidade contemporânea eram tidos como "conservadores". Eram em geral autoritários. Monarquistas em matéria política. Eurocêntricos e encontradiços em círculos abastados, de uma certa idade e educação. Às vezes racistas e antissemitas. E concentravam-se em grande número no seio da Igreja católica. No Syllabus dos erros da civilização contemporânea, Pio IX colocou Roma fortemente do lado da reação conservadora, ainda escarmentada pelas sequelas da Revolução francesa. Pio X condenou oficialmente o "modernismo" na encíclica Pascendi, de 1907. As catástrofes políticas da primeira metade do século confundiram as questões entre o progresso e o conservadorismo, entre o avanço criador e a estagnação reacionária, substituindo a alternativa por uma falsa dicotomia político-ideológica de esquerda x direita —— produto intelectual espúrio do romantismo jacobino de 1793 e 1848. Agora, no final desta centúria e deste milênio, creio que uma nova e mais esclarecida perspectiva se impõe, graças à qual contemplamos a paradoxal reversão de posturas filosóficas, obediente ao mecanismo contraditório da dialética da razão.
Com efeito, eis o paradoxo: os intelectuais de esquerda que se autointitulam "progressistas" são hoje "ecologistas" e os maiores inimigos das transformações que o mundo moderno nos propõe. Inversamente, os mais leais seguidores da clássica Filosofia Perene são aqueles que mais abertos se declaram, mais se arriscam diante das alternativas geradas pelo Moderno. Do mesmo modo, os chamados teólogos da libertação, longe de promoverem a liberdade, o desenvolvimento e o progresso, fazem uma opção preferencial pela pobreza do passado colonial, recusam-se a aceitar as propostas imperativas de controle da natalidade, atêm-se à velha estrutura do clericalismo autoritário e paternalista —— como se sua intenção fosse recriar a república teocrática dos guaranis. O milenarismo dos deserdados constitui a velha promessa compensatória para aqueles maniqueístas que são incapazes de arrostar os desafios de um mundo tecnológico que se transforma e deixa para trás os inadaptados, os ignorantes, os preguiçosos, os seguidores passivos de lideranças carismáticas, os que perderam o bonde do Moderno.
Vejam: os "progressistas" admiram a União Soviética e o socialismo, quando são os Estados Unidos a nação que carrega o futuro. A URSS é o último abencerrage do absolutismo monárquico, do imperialismo territorial, do nacionalismo vieux jeu que aspira à autarquia econômica e à hegemonia política. O socialismo é a receita da estagnação, a última expressão da "religião civil" como nostálgica memória de uma organização coletiva, fortemente comunitária, onde não devam reinar os imperativos darwinianos evolucionistas de concorrência e luta pela vida. Longe de ser a filosofia insuperável pretendida por Sartre, é o marxismo a mais obsoleta versão do romantismo antieconômico, antimonetário, anti- industrial do século XIX. Nesse sentido, talvez tenham razão os teólogos marxistas quando acreditam, como anunciava Nietzsche, que o socialismo seja a versão secularizada de um Cristianismo supostamente em decomposição. Estará Marx mais perto de Pio IX, Pio X e Paulo VI do que podemos imaginar? De qualquer forma, o totalitarismo nacional-socialista empaca na alternativa de uma cristalização e arcaização definitiva do indivíduo num tipo de sociedade fechada, uma sociedade de massas coletivizada, como uma formigueira ou uma termiteira. Mas será isso o que nos anuncia o futuro?
Na vida internacional, de fato, continuará presumivelmente, por longo tempo, a coexistência mais ou menos pacífica entre o Ocidente democrático, livre, pluralista e aberto, e o sistema soviético fechado, opressor, militarizado e esclerosado. Entretanto, todos os povos, mesmo aqueles que mais detestam a América, se americanizam. Aron está certo quando postula: "a paz impossível, a guerra improvável". Os dois mundos irão talvez conviver, como o império romano conviveu durante século com Parthas e Sassanidas, sem solução do dissídio. Certo: os terceiro-mundistas torcem pela vitória do nacional-socialismo marxista mas apostam errado e é isso, precisamente, o que compromete a mitologia que preside à política externa brasileira. Mais cedo ou mais tarde, os que sentam em cima do muro pagarão caro a sua miopia ou a sua covardia. O mundo moderno não comporta a postura da avestruz.
Mas se o totalitarismo reacionário constitui um desafio ao Ocidente, um desafio que indubitavelmente exigirá um esforço de imaginação para superar as nossas deficiências e injustiças —— do outro lado da Cortina o confronto apenas confirmará os comunistas nas suas formas peculiares de tirania, de brutalidade, de estagnação econômica e de atraso cultural. No cenário internacional, de novo, apenas reflete a intelligentsia que se intitula de "esquerda" o obsoletismo de suas convicções filosóficas.
Não podemos saber o que será o mundo do século XXI. Contudo, é lícito antecipar que as forças de transformação mais enérgicas da época contemporânea conduzem a um universo cosmopolita, mul-ti-racial, ecumênico, pluralista, de interdependência cultural, integração política democrática e economia de mercado dominada pelas grandes corporações multinacionais. A ideologia do Estado-nação soberano deve ser superada. Tudo indica que o modelo de desenvolvimento experimentado na área do Atlântico Norte (com uma sucursal no Extremo-Oriente) é o modelo do futuro —— precisamente porque é o modelo mais liberal, mais polêmico, mais dinâmico, mais imprevisível, mais contraditório. Diante da "sociedade exemplar" ocidental, o Terceiro-Mundo é o resquício folclórico do passado autoritário pré-moderno, a imagem pré-histórica da Idade da Pedra, o último vagão de carga de um trem da história cuja locomotiva trafega em algum lugar entre Milão e Londres, entre Nova York e Los Angeles, entre Tóquio e Singapura. O homem do século XXI mais se parecerá com um pedestre da Fifth Avenue, dos Champs Élysées ou da Avenida Paulista, do que com um caçador de cabeças da Nova Guiné ou um cacique de xavantes do Mato Grosso. O atual Terceiro Mundo fornecerá quiçá os elementos imaginativos, estéticos, emocionais e religiosos que serão elaborados no século XXI, mas a elaboração se processará no Primeiro Mundo!
É interessante destacar os sintomas da nostalgia folclórica dos que resistem ao "choque do futuro" —— as fantasias do complexo de retorno ao ventre materno daqueles mesmos que se consideram os machistas do "progressivismo". Com a energia do desespero na mitologia romântica do Bom Selvagem procuram os motivos para suas elucubrações saudosistas. Detrás da crítica à cultura moderna, naquilo mesmo que ela obedece à Filosofia Perene do Ocidente, está o desejo de fazer tabula rasa. Mas representa essa revolução em última análise, pela própria força das chamadas "leis dialéticas", um retorno ao passado, uma revolução a uma ordem petrificada, arcaica e cristalizada. A única revolução válida é aquela que, pela reforma dos costumes, institucionaliza a liberdade dentro da ordem. Novus Ordo Saeclorum... O verdadeiro revolucionário é aquele que, obediente às lições do passado transmitidas na áurea catena da Filosofia Perene, se sustenta em sua autonomia moral e em sua responsabilidade racional. O progresso se dirige, como queria Weber, no sentido da racionalização do comportamento, mas também da introjeção do imperativo ético. A lei impressa na pedra passa a ser gravada no coração.
A esquerda é crítica por definição e se a crítica da cultura constitui elemento indispensável de todo avanço, o ímpeto criador do homem não é, também por definição, suscetível de classificação ideológica. O homem criador explora o desconhecido, avança no imprevisível, liberta o indeterminado. O homem criador arrisca-se. Lança-se na liberdade de todo constrangimento no momento mesmo em que se ergue sobre o pináculo da cultura. O desafio prometeano ao poder da natureza, a penetração luciferiana nos segredos da Teodiceia são as alavancas que, a partir do pensamento ocidental —— greco-judeo-cristão —— transformam o mundo. Na transmutação de todos os valores, o próprio Nietzsche enfatiza a constância da cultura, centrada no indivíduo, no homem singular. A esquerda crítica não terá outro papel senão o de apontar para os erros ou descarrilamentos dos criadores, que tomam riscos precisamente porque enfrentam os enigmas e penetram às cegas nas brumas do porvir. Avançar é arriscar. A esquerda crítica é como um eunuco: pretende saber como se faz, mas não pode... Em suma, a ideia mais revolucionária é a ideia mais antiga do Ocidente, é a mais moderna e a ideia do futuro, a que surgiu entre os profetas hebraicos, aquela que está no centro da mensagem de Cristo e se desenvolveu no pensamento de Sócrates e de Platão: o homem é um ser livre e moralmente responsável. Como dizia Kant, não pode ser um meio porque é um fim em si mesmo. Não pode, portanto, ser um escravo do Estado.
O futuro não pertence aos supostos "progressistas" marxistas, social-estatizantes, terceiro-mundistas e nacional-socialistas. O futuro pertence aos que pensam e intuem. Pertence aos inventores e inovadores, "àqueles que não repetem velhos chavões, aos que não aderem a partidos, não seguem ideologias mas se lançam para o desconhecido, seguros em sua fortaleza moral. Este o manifesto de um mal chamado liberalismo conservador, cujo objetivo imediato é reduzir o poder do Estado burocrático.
A Liberdade, já assinalava Benjamin Constant, "nada mais é do aquilo que os indivíduos têm o direito de fazer e o que a sociedade —— entenda-se, o Estado —— não tem o direito de impedir"."

Friday, November 16, 2012

Males do Sindicalismo




Uma das maiores e mais antigas empresas de panificação americana, Hostess Brands Inc, fabricante dos populares pães Twinkies e Wonder Bread, anunciou esta semana que esta prestes a declarar falência devido a um enorme prejuízo causado por uma greve de seus funcionários que dura desde o dia 9, diz a agência de noticias Reuters.
A decisão de entrar em greve foi dada pela Bakery, Confectionery, Tobacco Workers and Grain Millers International Union, o sindicato que representa um terço dos 18,5 mil empregados. O motivo alegado é a diminuição do salario a que foram submetidos os funcionários, em razão de uma queda nos lucros da empresa. A greve já havia causado o fechamento de 3 das padarias do grupo, custando 627 empregos e agravando a situação econômica da empresa. Agora, apesar de nota da empresa alertando da iminência de falência, a liderança sindical queda irredutível.
Não que faltem exemplos no noticiário cotidiano, mas quero aproveitar a oportunidade para escrever alguma coisa sobre o sindicalismo e o dito direito de greve, temas que são normalmente considerados, de forma apriorística, como benefícios de valor inquestionável, adquiridos pela brava luta dos defensores dos trabalhadores para protege-los contra os opressores capitalistas.
Claro que existem diferentes acepções para o termo sindicalismo, como, por exemplo, a noção de Sorel, para quem esta é uma tática revolucionaria para a implantação do socialismo, usando como método a acao violenta com o objetivo de desestabilizar o sistema capitalista. Outra concepção é a própria ideia de um sistema econômico sindicalista, ou seja, diferente do socialismo ou do capitalismo, seria um sistema em que os empregados – e não o estado, como pregam os marxistas – tenham a propriedade dos meios de produção e/ou das instalações produtivas. Ambos significados são estranhos e, atualmente, não são levadas a serio por serem consideradas ideologias muito confusas.
Mesmo assim, os sindicatos são uma forte entidade no atual modelo econômico intervencionista e os seus esforços em conquistar mais e mais supostos benefícios aos trabalhadores são parte das razoes da dificuldade de se empreender em países como o Brasil e os Estados Unidos.
Desnecessário contar aqui as ligações corruptas entre os sindicatos americanos com a mafia, por exemplo, ou a instrumentalização dos sindicatos brasileiros pelo PT e PCdoB para os fins de perpetuação no poder destes partidos e implantação de um projeto de poder.  
Mas vale, para os fins de entender o “estado da questão” sindical, resumirmos a historia do sindicalismo contada por Ludwig von Mises em A Ação Humana, principalmente no tocante as suas raízes socialistas. Nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, Itália e Inglaterra tentavam dar uma nova roupagem as ideias do socialismo fabiano existente na então inimiga Alemanha. Então, aquelas duas nações criaram as ideias do stato corporativo e do socialismo de guildas, respectivamente, segundo os quais cada setor da economia constituía numa unidade monopolística que gozava de autonomia e capacidade de intervenção apenas dos seus membros. Era, portanto, “o direito de autodeterminação de cada profissão”, nas palavras de Webbs.
Estas ideias corporativas nasceram porque, apesar do desejo dos intelectuais italianos e ingleses de construírem uma filosofia social, não fazia sentido adotarem as mesmas ideias socialistas alemãs que tanto criticavam. Com o tempo, no entanto, o corporativismo italiano, uma vez sujeito ao regime politico fascista, se tornou um mero intervencionismo totalitário, já que aquele governo não apreciava a descentralização proporcionada pela corporazione.
A experiência frustou este sistema, uma vez que, por razoes obvias, a decisão de uma guilda afetava não apenas aquela categoria, mas toda a economia do pais. Uma guilda autônoma não se sujeita as pressões que a sujeitaria a ajustar o seu funcionamento para melhor atender aos consumidores. Nas palavras de Mises, “o esquema do socialismo de guildas e do corporativismo não leva em consideração o fato de que o único propósito da produção é o consumo”. Neste sistema ocorre uma inversão total de valores, já que a produção torna-se um fim em si mesmo. Ao monopolizarem o fornecimento, oprimiam o resto da população para o beneficio dos poucos pertencentes a guilda. Assim nascia aquilo que, depois, se tornariam os sindicatos.
O papel desempenhado pelos sindicatos é prejudicial não apenas quando tem por motivação uma pressão puramente politico-partidária, como no caso dos pelegos sindicatos brasileiros, mas também quando defendem as suas bandeiras primarias, como o aumento de salario. O aumento forcado do preço do trabalho obriga o empregador a contratar menos do que contrataria em condições sem intervenção. Caso não diminua o contingente, a empresa sofrera prejuízos por estar pagando mais.
Nas palavras de Mises, “salários reais só podem aumentar, mantidas inalteradas as demais circunstâncias, na medida em que o capital se torne mais abundante ”. Nas condições competitivas da economia de mercado não obstruído, o empregador é obrigado a não pagar a um trabalhador mais do que o consumidor estaria disposto a lhe reembolsar pela correspondente contribuição do trabalhador em questão. Negar esse efeito equivale a desconhecer a existência de qualquer regularidade na sequência e na interconexão dos fenômenos de mercado.

Como se vê, não é de hoje que as interferências do sistema sindical no mercado causa prejuízos, inclusive aos próprios trabalhadores. No recente caso Twinkies, 18,5 mil funcionários poderão ficar sem o emprego, definitivamente, quando poderiam ter, no caso da não interferência do sindicato, esperado o retorno das vacas gordas para que os salários voltassem ao valor esperado. So pode ser um raciocínio terrível aquele que diz que é preferível nenhum salario que um salario mais baixo.

Na verdade, as lutas sindicais só podem causar prejuízo ao trabalhadores. Mesmo o beneficio inicial de aumento de salários transforma o desemprego numa instituição, um fenômeno de massa crônico e permanente. 



* Os argumentos usados são baseados na obra de Von Mises, A Ação Humana, ali descritos de forma clara e fundamentada.

Monday, November 12, 2012

Saturday, November 10, 2012

A Corrupção como mecanismo de equilíbrio no regime Intervencionista

Desde o desaparecimento do liberalismo clássico a economia do tipo intervencionista tem sido o modelo dominante na maioria dos países do mundo, qual seja, o sistema de mercado controlado, em que a propriedade privada dos meios de produção é mantida, mas as ações dos seus proprietários são restringidas por ordens autoritárias do Estado. Ou, como disse Othmar Spann, citado por Von Mises, é o sistema de propriedade privada em sentido formal, mas um socialismo em essência.

Este regime é reputado, com razão, como mercantilista, protecionista ou proto-capitalista. Sim, de fato, é um retorno ao protecionismo do século XVIII. Quem poderia contestar que a mentalidade que rege as decisões no âmbito econômico no Brasil, por exemplo, não seja um conjunto de medidas econômicas no sentido de favorecer as atividades internas em detrimento da concorrência estrangeira? Podem discordar, talvez, dos resultados de tal política econômica, ou se estes resultados são benéficos ou maléficos, mas qualquer observador frio e apto concluirá que o que chamamos neoliberalismo está mais próximo de um neomercantilismo. 

Para fins de comparação entre o mercantilismo do século XVIII e o atual, basta que atentemos aos principais princípios daquele sistema econômico e a ideologia que norteia as decisões politico-econômicas hodiernas: metalismo, com o fim de evitar a saída de metais preciosos (ou a produção nacional?); incentivos às manufaturas, em detrimento da produção agrícola; protecionismo alfandegário por meio principalmente de tarifas; balança comercial favorável; soma zero, que acredita que o lucro de uma parte redunda na perda da outra; etc. Qualquer semelhança com a política econômica do PT, por exemplo, não é mera coincidência.

Ora, o fato de ser este um regime misto, habitando aquela zona cinzenta entre o capitalismo liberal e o socialismo, nos faz questionar as razões porque este sistema não se desintegra ou não se torna, de uma vez, capitalista ou socialista. Sendo o intervencionismo tão prejudicial a todas as classes sociais, não podemos afirmar que é meramente uma ideologia o que mantém esse sistema intacto. Ora, mais dias, menos dias, as classes trabalhadoras, por exemplo, insurgiriam contra um sistema que, por meio dos sindicatos e da elevação artificial dos salários (instituição do salário mínimo), criou o desemprego como uma instituição permanente, diferente tanto do sistema capitalista liberal, em que o desemprego é uma situação temporária de adaptação ao mercado de trabalho, quanto do sistema socialista, para o que o desemprego é resolvido com a integração forçada do trabalhador na máquina de produção estatal.

Ou talvez se insurgiria a classe dos empresários e empreendedores, insatisfeitos que são em relação ás restrições de produção, aos impostos, às pressões sindicais, às intervenções nos preços, etc. Talvez esta classe social, mais esclarecida ou com melhores meios de se fazer ouvir sua voz no seio da polis, poderia se insurgir contra o sistema intervencionista em que vivemos. Mas por que não o fazem? Por que um sistema que tem causado tanta desigualdade e desemprego não é, de uma vez, escorraçado e relegado aos porões da História humana?

Ora, vejam que a falência deste sistema é normalmente censurada exclusivamente no que toca às leis, que não são aplicadas com profundidade. Ou seja, diante do fracasso de um sistema em que o estado intervém, o cidadão pede por mais leis e mais intervenção do Estado nas situações cotidianas. Por incrível e estranho que possa parecer, a corrupção dos órgãos do governo não abala a confiança na infalibilidade do estado, mas provoca repugnância em relação aos empresários, empreendedores e capitalistas.

Não será por meio do cumprimento estrito da lei, como querem os socialistas, que se alcançará o paraíso na terra. Se todas as leis intervencionistas fossem observadas, as engrenagens terminariam emperradas pela força inoperante e burocrática do estado.
Como exemplo, não imaginário porque foi uma situação específica na Inglaterra quando este país testava as primeiras teorias socialistas que surgiam, vamos analisar o caso do controle do preço do leite. Os produtores de leite aumentam o preço do leite para poderem honrar com os custos da produção. O estado, então, sempre preocupado com o bem-estar social, buscando o interesse comum sobre o interesse privado, estabelece preços máximos para o leite e ameaça prender os produtores que não obedecerem à ordem intervencionista.

Uma vez que o leite não fica tão barato como gostariam os consumidores, estes culpam o fato de que as leis não foram suficientemente severas. Na verdade, se os preços fossem mantidos tão baixos, em pouco tempo não haveria mais oferta de leite, ou seja, o fornecimento seria interrompido. Oferta e demanda, regrinha básica de economia que os socialistas não gostam, certo?

Qual o caminho possível para que o leite continue a chegar à mesa do cidadão? Se o consumidor ainda consegue leite, é porque algum produtor está burlando a lei e vendendo acima do preço taxado, além de, provavelmente, estar pagando suborno para o funcionário público responsável pela fiscalização. Não precisamos aqui questionar quem, se o estado ou o produtor corrompido, faz mais para o bem público. Claro que o produtor que paga propina para levar seu produto à mesa do consumidor, agindo à revelia da lei e por razões egoístas, serve mais ao interesse público, movido pelo interesse de evitar o prejuízo que teria se tivesse obedecido à lei. A decadência ética da conduta empresarial é a decorrência inevitável das intervenções.

Um exemplo mais atual foi testemunhado por mim quando da minha viagem ao Zimbábue e foi narrado neste blog. Na minha segunda viagem ao país, a van em que viajávamos saiu da estrada principal e, depois de vários minutos mata adentro, chegamos a um sítio onde se cozinhava diesel ilegal para o fornecimento aos motoristas daquela região. A ausência de diesel no mercado se deu porque o governo zimbabuano interviu no preço do óleo de forma muito severa e mandou prender os fornecedores que desobedecessem à ordem, fazendo com que o produto sumisse do mercado, fazendo com que o consumidor tivesse que se valer de métodos ilegais para conseguir continuar a viagem.

Vejam que num caso desses, a população normalmente não questiona a ação governamental, mas a atitude “iníqua” de desobediência às leis e a ausência de uma aplicação mais severa das leis. Inclusive, no caso zimbabuano nem ao menos faltou a prisão de fornecedores que desobedeceram ao mandamento legal. Acontece que os problemas básicos do intervencionismo não são questionados. Aqueles que ousam duvidar da validade de tais leis são normalmente taxados de inimigos do povo ou mercenário.

Von Mises, no seu livro Uma Crítica ao Intervencionismo, esclarece esta questão com muita propriedade, dizendo que o elemento equilibrador do intervencionismo é a corrupção. Sem ela, o intervencionismo certamente se desintegraria e seria substituído pelo socialismo ou pelo capitalismo liberal. Se não houvesse a saída pela corrupção, o controle de preços criaria uma situação de escassez generalizada que abriria o caminho para uma revolta dos famintos que instauraria o socialismo totalitário, ou a revolta dos empreendedores, o que culminaria na destruição das leis intervencionistas e a implementação de uma economia puramente liberal.

O intervencionismo coloca nas mãos do governante e do legislador um enorme poder, sob a alegação de que estes irão proteger os pequenos e os pobres contra os grandes e capitalistas. A atividade empresarial e empreendedora é vista como egoísta pelos governos intervencionistas. Para substituir o efeito considerado nocivo da propriedade privada, os intervencionistas acreditam que basta deixar o poder na mão de desinteressados e infatigáveis legisladores e burocratas. Acontece que estes não são anjos. Logo percebem que as suas ações podem redundar em ganhos ou perdas significativas para os empresários. Daí surge a oportunidade de partilhar os ganhos permitidos pelo intervencionismo, por meio de favoritismos na aplicação de medidas protecionistas.

Por melhores que sejam as leis de licitações, por exemplo, não existem critérios totalmente neutros e objetivos para a concessão de uma obra. Ou no caso de uma licença de exportação, a quem deve ser dada ou a quem deve ser negada? Sempre haverá margem para que funcionários públicos tomem a decisão baseados em preconceitos e favoritismo, mesmo que seja apenas a contraprestação do apoio eleitoral, por exemplo.

Assim, como disse Mises, a corrupção é uma consequência natural do intervencionismo e sua condição sine que non.



* Esta corrupção a que me refiro não diz respeito àquela do tipo dos mensaleiros, por exemplo. Ali, a motivação é ligada ao que o filósofo Olavo de Carvalho acertadamente chama de a mentalidade revolucionária. Os mensaleiros não pretendiam burlar um empecilho legal à produção de bens ou serviços e nem ao menos podemos dizer que pretendiam usar o dinheiro ilegalmente arrecadado para fins de enriquecimento pessoal. Era, sim, uma corrupção perpetrada com o fito de manutenção e aperfeiçoamento de um projeto de poder por meio da compra de apoio parlamentar. Qualquer partidário do PT aplaudirá a atitude dos mensaleiros na medida em que ela serviu ao projeto de poder do partido, não ao enriquecimento individual. Para os “possuidores” da mentalidade revolucionária, esta atitude é justificada como um meio para a implantação do futuro perfeito pregado pelos revolucionários de esquerda.


**Logo após publicar este texto me veio às mãos uma reportagem sobre o efeito das intervenções estatais do governo brasileiro na economia. Estas intervenções custaram um prejuízo de 61,6 bilhões de reais só neste ano, em termos de perdas no valor de mercado de empresas do setor elétrico, bancário e de telecomunicações e foram causados principalmente pela situação de incerteza advinda das mudanças de regras, afugentando os investimentos.
Sérgio Lazzarini, escritor de Capitalismo de Laços, afirma que o “diferencial” do governo Dilma é que, enquanto nos governos Lula e FHC as intervenções “se davam através de movimentações de bastidores por meio do BNDES e dos fundos de pensão, as intervenções do governo Dilma são explícitas e ocorrem por meio de mudanças nas leis ou da utilização das estatais para forçar a concorrência.” Como sempre ocorre, o governo entende que a finalidade é justa. É aquela velha história, “é bom para o Brasil, mesmo não sendo bom para você”.

Friday, November 2, 2012

Os 50 Apocalipses dos quais escapei


Após assistir o primeiro capítulo da nova minissérie da Globo Como Aproveitar o Fim do Mundo, resolvi fazer uma lista das mais relevantes predições apocalípticas feitas desde o ano em que nasci, 1983, até os dias de hoje. Ou seja, este é um apanhado da quantidade de apocalipses dos quais escapei nesta minha não tão longa vida...


1) 1984 – A seita Testemunhas de Jeová, que faz previsões do fim do mundo desde 1874, fez sua nona previsão para o ano de 1984. Também não deu certo, mas não pense que eles desistiram. Marcaram nova data em 1994 e, em novembro de 1995 escreveram um artigo dizendo que o fim tinha sido prorrogado pela graça de Deus! Ufa, essa foi por pouco...
2) 1984-1999 – O guru Rajneesh previu para esse período a extinção das maiores cidades do mundo, além da destruição da Terra por terremotos, vulcões, maremotos, etc.
3) 1986 – Esse foi o ano previsto pelo líder da seita Meninos de Deus para o início da Batalha do Armagedom, em que os russos instaurariam o comunismo mundial após vencerem Israel e, em 1996, Jesus voltaria.
4) 16-17 de Agosto de 1987 – O grupo Convergência Harmônica marca o advento da Nova Era, com a vinda da Serpente Deusa da Paz.
5) 11-13 de Setembro de 1988 – O livro “88 Razões porque o Arrebatamento será em 1988” causou pânico e conversões-relâmpago em vários lugares do mundo.
6) 21 de Setembro de 1988 – O Arrebatamento de Rosh-Hashana, ainda baseado no livro “88 razões...”.
7) 14 de Maio de 1988 – O dia da comemoração dos 40 anos da fundação do Estado de Israel foi selecionado pelo pastor Bill Maupin da The Lighthouse Gospel Tract Foundation como a data certa para o fim dos tempos.
8) 1988 – Também foi o ano marcado pela J R Church baseados em profecias escondidas nos Salmos.
9) Setembro de 1989 – Depois do fracasso do seu livro “88 razões...”, Edgar Whisenaunt escreve “89 razões porque o Arrebatamento será em 1989”, mas as vendas e o sucesso não seriam mais os mesmos.

10) 10 de abril de 1993 – David Koresh marcou o arrebatamento para o ano de 1995, mas após um período de espera, um grupo de 76 pessoas foram queimadas vivas em 1993 a fim de evitar serem destruídas quando do inicio do Armagedom.  
11) 31 de Março de 1991 – Um grupo na Austrália esperava a vinda de Jesus neste dia, às 9:00 da manhã.
12) 28 de Outubro de 1992 – O movimento Hyoo-go marcou essa data para o fim de tudo.
13) 1994 – F.M. Riley, criador do movimento The Last Call, deu certeza que esse era o ano nos Planos de Deus para levar seus escolhidos.
14) 9 de Junho de 1994 – Pastor John Hinkle da Christ Church Los Angels disse que tinha recebido uma visão de que esta seria a data.
15) 28 de Outubro de 1992 – Lee Jang Rim, líder da Missão Dami em Seoul, preveu o arrebatamento para esta data. Apesar dos esforços das autoridades para conter o caos, 4 membros do grupo cometeram suicídio.
16) 2 de Maio de 1994 – O líder Bahá-i Neal Chase disse que Nova Iorque seria destruída por um ataque nuclear em 23 de março e a Batalha do Armagedom se daria 40 dias depois.
17) Setembro/outubro de 1994 – Harold Camping, meu profeta do arrebatamento favorito, disse inicialmente que o fim seria em 6 de setembro de 1994. Quando falhou, mudou para 2 de Outubro. Finalmente, marcou para 31 de março de 1995, que seria sua última profecia até a mais famosa, de 2011.
18) 17 de dezembro de 1996 – O esotérico Sheldon Nidle previu a chegada de 16 milhões de naves extraterrestres e um batalhão de anjos. Quando a data passou ilesa, ele disse que os anjos teriam criado um holograma para que as pessoas não percebessem o que tinha acontecido.
19) 23 de outubro de 1996 – Um arcebispo irlandês do século XVII, James Ussher, teria previsto esta data como os exatos 6000 anos da criação e, portanto, seria o fim do mundo.
*Ussher se baseou no número de gerações, duração média da vida humana e nas principais figuras bíblicas desde Adão e Eva até ao nascimento de Jesus, para afirmar que a Terra foi criada às 9:00 da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 a.C, Adão e Eva foram expulsos do Paraíso em 10 de novembro de 4004 a.C e a arca de Noé aportou no Monte Ararat em 5 de maio de 2348 a.C.
** Além do calculo de Ussher, o período 1996-1998 era propício para o aumento destas profecias porque 1998 dividido por 3 é 666!

20) 31 de março de 1998 – Ho Ming Chen, criador da seita Chen Tao, mandou avisar que Deus viria do céu neste dia às 10:00 da manhã. O engraçado nesta história é que Chen se mudou para os Estados Unidos, para a cidade de Garland, que para ele soava como God´s Land, e avisou que Deus iria aparecer no dia marcado em todos os canais 18 de todas as TV’s. Acontece que este era o canal da Playboy. Na certa Deus desistiu porque espera-se que nenhum cristão estivesse assistindo esse canal.
21) 12 de setembro de 1997 – Stan Johnson marcou este dia como o aniversário de 2000 anos de Jesus e, portanto, o dia do inicio da Grande Tribulação.
22) 26 de março de 1997 – O cometa Hale-Bopp, quando estava no seu ponto mais próximo da Terra, fez com que um grupo de 39 pessoas liderados pelo líder da seita Portão do Paraíso, Applewhite, cometessem suicídio na esperança de serem resgatados por OVNI’s.
23) 1997 – Uma seita japonesa chamada Aum Shinri Kio, localizada ao pé do monte Fuji, anunciou este ano como o ano do Fim do Mundo. O teor violento desta seita deixou um rastro de mortes em vários países do mundo. Pessoas que deixassem a seita eram assassinadas e mesmo um advogado que tentou indiciar os líderes da seita, ao ser descoberto, foi assassinado juntamente com a mulher e filho. Membros desta seita também realizaram ataques com gás sarin em Tóquio, matando 13 e contaminando 980 pessoas.
24) 10 de Abril de 1997 – Dois estudiosos, Millar e Wardsworth, chegaram a conclusão de que este seria o dia em que o Anticristo iniciaria seu reinado como o novo Papa, Pedro II.
25) 31 de maio de 1998 – Marilyn Agee escreveu um livro afirmando que esta data marcava o fim do ciclo de 6000 anos da humanidade e seria, portando, a data do fim do mundo.
26) Outubro de 1998 – A House of Yaweh previu esta como o início de uma guerra que daria cabo ao mundo até o ano 2001.
27) 18 de agosto de 1999 – Charles Criswell King previu este como o fim do mundo.
28) 30 de setembro de 1999 – Kirk Nelson previu esta como a data da volta de Cristo.
29) Julho de 1999 – Nostradamus, talvez o mais famoso profeta do fim dos tempos, também errou feio nessa predição, mas me lembro que deixou muita gente assustada.

30) 2000 – Incontáveis predições surgiram em relação a este ano, inclusive de pessoas respeitadas como Isaac Newton (cientista inglês), Jonathan Edwards (grande pregador e escritor), Timothy Dwight IV (reitor da Universidade de Yale), Peter Olivi (teólogo franciscano), Helena Blavatsky (fundadora da Teosofia), Rev. Moon (fundador e líder da Igreja da Unificação), Michael Drosnin (jornalista e escritor), etc. Cada um a seu modo, todos eles disseram caíram na armadilha do velho ditado "Mil passará, dois mil não chegará"!
31) 2000 – O Bug do Milênio, um erro de computador iria ocorrer quando da passagem do ano 1999 para o ano 2000 e levaria a humanidade ao caos total.
32) 1 de janeiro de 2000 – Em Uganda, 778 pessoas cometeram suicídio ou foram assassinadas por líderes de uma seita que esperava o fim do mundo.
33) 25 de dezembro de 2000 – Papa João XXIII previu, em 1962 que Jesus iria aparecer em Nova York dando inicio ao período conhecido como Milênio.
34) 11 de janeiro de 2000 – Segundo o Weekly World News, A CIA teria encontrado um ET que seria o último sobrevivente da destruição de seu planeta, e que disse que Deus estava insatisfeito com toda a criação e que, portanto, iria destruir todos, sendo a Terra o próximo alvo.
35) 6 de abril de 2000 – James Harmston, fundador de um movimento separatista da Igreja Mormon, predisse a segunda volta de Cristo para esta data.
36) 5 de maio de 2000 – Richard Noone previu que, ao alinhar dos planetas, o gelo das calotas polares iria derreter e inundar o planeta, acabando com a vida como a conhecemos.
37) 5 de maio de 2000 – A seita de supremacia negra Nuwaubianismo predisse que o alinhamento dos planetas causaria um holocausto planetário.
38) 9 de outubro de 2000 – Grant Jeffrey, um  professor de Bíblia, previu esta data como o início do fim dos tempos.
39) 2001 – Tynetta Muhammad, do grupo religioso Nação do Islã, previu que o fim do mundo se daria nesta data.

40) Maio de 2003 – Nancy Lieder previu o chamado Cataclismo Nibiru, em que um grande planeta se chocaria com a Terra, segundo mensagens enviadas por extraterrestres da estrela Zeta Reticuli.
41) 29 de abril de 2007 – Pat Robertson sugeriu esta data para a destruição do mundo no seu livro The New Millenium.
42) 10 de Setembro de 2008 – O Projeto Large Hadron Collider, o maior acelerador de partículas do mundo, foi alvo de especulações de que criaria um buraco negro que engoliria a Terra.
43) 2010 – Ano previsto pela Ordem Hermética da Aurora Dourada para o fim do mundo.
44) 29 de setembro de 2004 – Arnie Stanton previu esta data para a vinda de Cristo, quando o asteroide Toutatis faria uma aproximação com a Terra.
45) 17 de abril de 2008 – Ronald Weinland viaja com a esposa para Jerusalem onde se afirmam as 2 testemunhas do Apocalipse.
46) Agosto de 2011 – O Cometa Elenin passa entre a Terra e o Sol e previsões disseram que causaria distúrbios e mudanças no eixo de rotação terrestre.
47) 2007 – Shelby Corbett, uma professora da Florida, espalha panfletos na cidade alardeando o fim do mundo.
48) 2007 – Hal Lindsay, após prévias tentativas frustradas, remarca o fim do mundo para 2007.
49) 2007 – Segundo a pastora da INSEJEC, Valnice Milhomens, Jesus voltaria num sábado do ano de 2007. Não aconteceu.
50) 21 de Maio de 2011 – Deste eu me lembro bem, já que vivia nos Estados Unidos e soube de muita ação envolvendo os fiéis deste pastor. Muito venderam tudo o que tinham e subiram morros com vestes brancas para estarem mais pertos de Jesus quando este voltasse. Ao Arrebatamento se seguiriam terremotos e em 5 meses a Terra seria destruída após o Juízo Final. Muitos espertinhos colocaram peças de roupas no chão em lugares estratégicos para sacanear os membros dessa igreja, como que sugerindo que os donos destas roupas teriam sido arrebatados, deixando as roupas para trás.


Os profetismos citados acima causaram a morte de aproximadamente 924 pessoas, principalmente por suicídio coletivo. Neste número também inclui pessoas que morreram por retaliação das seitas, como o caso ShinriKio.

Thursday, November 1, 2012

Massacre de Jonestown - Os efeitos nocivos da fé cega


Documentário sobre o caso Jim Jones, da seita Templo do Povo, que, em 18 de novembro de 1978, comandou um suicídio coletivo de mais de 900 seguidores na selva da Guiana.

Wednesday, October 31, 2012

Sobre justiça como distribuição


“Se não houvesse a escassez, não haveria necessidade da justiça”, numa tradução livre de um trecho de Enquiries, de Hume.

Para explicar o contexto em que este trecho está inserido, basta dizer que, para o filósofo, a justiça perderia sua utilidade social nos casos de abundância absoluta ou de escassez absoluta. Como vivemos, no entanto, no mundo da abundância limitada (ou escassez limitada), a desigualdade nos haveres (propriedade) é útil porque é justa.

Este trecho é, talvez, o argumento mais forte contra a ideia tão comum de que a expropriação e distribuição de bens pelo Estado poderia garantir um mundo onde todos teriam suas necessidades satisfeitas. Essa visão do Estado Robin Hood, que tira dos ricos para dar aos pobres, base do pensamento marxista, é ideia disseminada mesmo na cabeça de pessoas que não se afirmam seguidores de Marx, mas que a reproduzem por mera repetição.

Na verdade, bens limitados e necessidades humanas ilimitadas são não apenas noções cediças no pensamento econômico clássico, mas a própria razão da existência da ciência econômica, mas, como ironizou Roberto Campos, quando Marx afirmou que bastava distribuir para  acabar com os males do mundo, foi fatal: "os socialistas nunca mais entenderam a escassez." Alguns críticos de Marx, inclusive, questionam o fato de que, sendo Hume um filósofo tão relevante e conhecido na época de Marx, não foi citado nas obras deste com o fito de refutação ou recolocação dos argumentos daquele. Faz parecer que Marx, um escritor combativo, evitou este debate em especial dado a força dos argumentos de Hume.

A idéia de justiça como distribuição igualitária (das mesmas coisas em mesmas quantidades), além de ilusória, é, em verdade, absolutamente desigual. Primeiro porque não é possível obter o consentimento de todos os envolvidos e, segundo, porque ela parte do pressuposto de que as necessidades de todas as pessoas são parecidas, o que não é verdade, a não ser no mundo utópico de Aldous Huxley, onde o estado super-poderoso condicionava os cidadãos desde antes do nascimento para preferir isto e preterir aquilo.

Ao poder estatal totalitário e planejador junta-se, então, um terceiro papel, qual seja, o de repressor da liberdade de escolha, para que este igualitarismo possa sobreviver. O totalitarismo repressor não é, portanto, mero acidente de percurso, mas conditio sine qua non para que este regime político funcione. Queira o que está sendo igualitariamente distribuído ou seja enviado aos gulag.

Ainda em tempo, junte-se este anseio ilusório do “perfeito mundo possível” ao paternalismo político, tão comum nos povos românticos (latinos), e está formado o retrato do mindset dos bem pensantes, politicamente corretos, demagogos políticos e jornalistas desinformados deste país. São os fundamentalistas da religião civil onde o Estado resolverá todos os seus problemas, basta acreditar.

Sunday, October 21, 2012

mais sobre a música...

“Depois do jantar, Natacha, às instâncias do príncipe André, pô-se ao cravo e cantou. Enquanto conversava com as senhoras num vão de janela, Bolkonski a escutava. Calou-se bruscamente no meio duma frase, sentindo que lágrimas lhe subiam à garganta, coisa de que não se julgava capaz. Com os olhos fixos na cantora, experimentava uma emoção desconhecida, uma felicidade misturada de tristeza. Sem ter motivo algum para chorar, estava prestes a derramar lágrimas. Chorar o quê? O seu primeiro amor? A sua princesinha? As suas desilusões? As suas esperanças? Sim e não. Aquela vontade de chorar provinha sobretudo duma revelação que se fazia nela: a espantosa contradição entre o que sentia de infinitamente grande e de indeterminado no fundo de seu ser e o indivíduo estreito e corpóreo que ele próprio era – e que ela também era – acabava de surgir-lhe ao espírito. Eis o que causava ao mesmo tempo seu tormento e sua alegria enquanto Natacha cantava”.

(Tolstói, Guerra e Paz)

Saturday, October 13, 2012

'Proletário, tema de exploração ideológica', por Mário Ferreira dos Santos


A Invasão Vertical dos Bárbaros, de Mário Ferreira dos Santos, foi primeiramente publicado em 1967. Não parece. Sua atualidade é tão forte que nos dá a impressão que nasceu na geração hodierna. Abaixo, transcrevo um trecho desta obra, em que o filósofo tratou da verdadeira exploração da classe proletária. Outros livros em que ele trata desse tema são Análise de Temas Sociais e O Problema Social, além de outras obras em que Mário Ferreira denuncia a farsa dos demagogos, cujo ardil para a tomada e manutenção do poder se utiliza de uma falsa aliança com a classe proletária. Estes demagogos, com a promessa vazia de libertação e utopia, são os verdadeiros exploradores dos proletários. Não procedi nenhum corte no trecho para evitar que se "quebrem" os argumentos, mas seu tamanho é ínfimo em relação a todas as baboseiras que são escritas pelos engajados, demagogos e politicamente corretos.
Segue abaixo:


Proletário, tema de exploração ideológica:

Em todas as épocas da humanidade os que apenas são prestadores de serviço foram sempre vítimas de exploradores astuciosos. Assim sempre foi, e assim ainda é.
O homem, que outra renda não tem que a do seu trabalho, e que a única riqueza que possui são seus filhos, foi chamado de proletário, porque só a sua prole é o bem que lhe resta, a renda que lhe permitem ter é a que lhe podem dar seus filhos.
Como a sua vida é feita de necessidades, como a sua mesa é quase vazia, como as suas necessidades mais elementares são tantas e exigentes, é natural que esse homem, que esse tipo de homem, tenha exigências imediatas, careça de bens imediatos para satisfazer as suas justas necessidades.
Seus problemas são sempre de urgente solução, porque não pode esperar, porque não espera seu estômago, que pede alimentos; seu corpo, que pede vestes.
Por outro lado, todo homem deseja prestigiar-se ante os seus semelhantes. Todos querem ser, ou pelo menos, parecer que são superiores em alguma coisa. Sempre houve, sempre há e sempre haverá os que desejam impor-se aos outros com alguma superioridade. Um quer ser mais simpático, outro mais forte, outro mais hábil, outro mais rico.
Dos que não podem sobressair por nenhum daqueles caminhos, há muitos que buscam sobressair pelo poder político, exercendo este poder sobre os outros.
Quem são eles? São os famintos de prestígio, e que não sabem sofrer a sua fraqueza, os complexados de poder, complexados de inferioridade, que buscam obter um cargo que os torne grandes, porque não são grandes.
Quem é grande não procura ocupar o cargo grande. Quem realmente é grande cria para si a própria grandeza. É grande porque é grande, e não porque ocupa um cargo grande.
Quem verdadeiramente se eleva é quem ascende por si, por seus atos e por suas realizações ao posto elevado. Cria o seu lugar, como Pasteur criou o seu na Ciência, como Aristóteles na Filosofia, como Camões criou na literatura.
Nem Pasteur, nem Aristóteles, nem Camões foram grandes porque ocuparam cargos elevados, mas foram grandes porque realizaram obras elevadas.
Aquele que não pode sofrer a sua inferioridade, aquele que não suporta dentro de si a sua pequenez, quer o cargo elevado, porque julga que ocupando um pedestal, e estando, mais alto que os outros, é realmente maior que os outros.
E eis porque o proletário, em todas as épocas, ontem, hoje e talvez ainda amanhã, há de ser sempre o grande procurado, o grande explorado pelos que desejam ascender aos altos postos, pelos que não podem erguer-se por si mesmos, porque, na verdade, não são grandes, mas podem erguer-se sobre as suas esquálidas costas aos postos grandes para parecerem grandes.
E como procederam? Exploraram a sua miséria, exploraram a sua carência, exploraram a sua boa fé, exploraram a sua ignorância, exploraram a fome de seus filhos, a seminudez e os andrajos de sua companheira, exploraram a urgência de suas necessidades, e lhe prometeram, então:
que lhe dariam, já, imediatamente, o que já e imediatamente ele precisa;
exploraram o seu imediatismo, que o faz vibrar ante a promessa do prato de comida, da veste para seu corpo quase nu, da casa humilde que não tem.
E como nada recebia de melhor do que esperava, eles sempre justificaram a sua falta, culpando a outros.
Eles sempre encontraram culpados para explicar, porque não lhe deram o que lhe prometeram.
Eles nunca são os culpados, mas os outros. Quem são esses outros? Acaso são tão diferentes dos primeiros? Não são outros que os primeiros, que são outros para os segundos? Uns acusam os outros mutuamente. Todos, quando falam, são angelicais criaturas que só pensam no bem. Os outros, sim, esses só fazem o mal. O proletário que ouça o que uns dizem dos outros, as ofensas e as injúrias que uns atiram aos outros.
Uns, são para os outros os traidores do povo. Todos se acusam mutuamente de traidores. Pois, na verdade, são todos traidores do proletário, do eterno atraiçoado, do eterno explorado, do eterno sofrido de injúrias e misérias.
Mas, por acaso, é o proletário apenas vítima? Sim, é vítima da sua ignorância e da sua fome, vítima da urgência das suas necessidades, vítima do seu apetite insaciado.
Mas é culpado, porque ouve a quem não devia ouvir;
é culpado, porque crê em quem não devida crer;
é culpado, porque serve a quem não devia servir;
é culpado, porque segue a quem não devia seguir.
Nunca, na história da Humanidade, conseguiu um pouco mais que não saísse de suas mãos, porque é de suas mãos que sai toda riqueza do mundo.
Nunca foram os outros que o ergueram, mesmo aqueles que saem de seu seio para pregarem que o ajudarão.
Os que sempre, em toda história, se proclamam os amigos do proletariado, sempre foram os mais ricos, os mais poderosos, os de vida mais suntuosa.
Os seus verdadeiros benfeitores jamais andaram à caça de altos cargos.
A maioria é dos mesmos fariseus hipócritas, os que desejam que permaneça na ignorância e na miséria, porque sabem que se tiver o estômago cheio, seu corpo vestido, sua casa humilde e boa, sua companheira e seus filhos sorridentes e alegres, não ouvirá mais os desejosos de ascender sobre os degraus de sua fome e de suas necessidades.
Jamais eles lhe darão meios de alcançar o bem-estar, porque o seu bem-estar o levará ao desinteresse pela política e, então, como subirão eles?
Enquanto tiver fome, eles terão um meio de explorar as suas necessidades, somando-as em votos, que os erguerão aos cargos nos quais são investidos, porque os cargos, que o homem cria pelo seu trabalho e sua inteligência, estes estão proibidos para eles, porque não são grandes, apenas querem parecer que o são.
Em todos os tempos o proletário só conseguiu erguer-se um pouco acima da sua pobreza, quando, por si mesmo, pelo seu trabalho, pelo seu esforço combinado com os de seus irmãos, ele mesmo criou a riqueza para si.
O seu verdadeiro amigo não é aquele que lhe pede o voto, mas aquele que lhe ensina como melhorar a sua vida, aumentar o seu salário, mas aumento real e não fictício, aumento verdadeiro, e não apenas somar um zero, quando, nos preços, os zeros se multiplicam.
Foi quando chegou ao seu companheiro e lhe perguntou: que podemos nós dois fazer juntos para ajudar-nos a sair da situação em que estamos? Não podemos juntar outros companheiros, como nós, e cooperarmos juntos para fazer alguma coisa real que possa melhorar a nossa vida?
“Não podes tu ajudares a construir a minha casa, e eu a tua. Não poderemos os dois ajudar outros, e eles ajudarem a nós?”



Outro aspecto bárbaro de nossa época é a proliferação das idéias sociais primárias, que prometeram o impossível aos homens, e só lhe trouxeram, até aqui, as mais desalentadoras experiências. Os resultados não corresponderam às expectativas, e se há ainda, em muitos, algumas esperanças de que possa encontrar nessas promessas o caminho das efetividades desejadas, deve-se à pobre advertência dos que não sabem mais distinguir entre o que é quimérico e o que tem probabilidade de realização.
Uma revisão das idéias sociais, feita com o cuidado que devem merecer, evitaria a repetição de tantos erros e a perpetuação de tantos malogros. Este mundo precisa ser reformado, sem dúvida, mas cuidemos de não trocar o ruim pelo pior. Para evitar que isso se dê, é mister, desde logo, o exame nas idéias sociais do que tem elas de bárbaro, e o que tem elas de culto, o que elas realmente oferecem. É inútil sonhar que “tigres gestem pombas”...
O reexame de todas elas se impõe, hoje mais do que nunca, quando se exacerbam a consciência das ausências, os ressentimentos, os sentimentos de frustração. Só a nossa vontade purificada pelo entendimento correto pode nos levar ao amor verdadeiro e justo. Por esse verdadeiro amor, devemos cuidar-nos de cair em velhos erros de resultados tão
desastrosos. Não basta amar o próximo. É preciso saber como devemos tornar efetivo e prático o nosso amor.
Evitar as reversões infantis é outro caminho que nos cabe. Não podemos recuar aos esquematismos da criança. Não é possível que compreendamos o homem adulto e maduro como se fosse uma criança que subitamente envelheceu. Não é possível que consideremos como verdadeira ciência nossa o que a criança julga que é a palavra, como ela concebe o número, como ela entende causa e efeito, como ela julga o poder das coisas, como ela crê nas possibilidades.
Precisamos de uma vez por todas aceitar a nossa maturidade intelectual, e sobre ela fundar as nossas observações, experiências e também as nossas realizações. Retornos aqui seriam demissões, e mais ainda, derrotas. Não alimentaremos a humanidade com derrotas, mas com vitórias, porque estas é que são o verdadeiro alimento do espírito.



Tratamento de enxaqueca em Moçambique