"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem".
Alberto da Cunha Melo

Saturday, August 29, 2009

O canto que aqui não há...

Em Michigan alguém que retornara de Moçambique me falou sobre carros puxados por bois. Logo me empolguei, porque uma das melhores lembranças da minha infância no interior é o canto do carro de boi. Qual não foi minha decepção quando, aqui, vi que os bois puxam carroça, dessas leves que, no Brasil, são puxadas por cavalos.

Meu coração de menino ainda quer ouvir novamente aquele som grave e insigne do carro de boi. Seu canto, qual arauto, anuncia de muito longe a chegada do imponente rei do estradão. Pesado, vagaroso e rústico, ainda hoje, mas agora bem raro, vemos no interior do Brasil, donde, na ausência de boas estradas, o carreiro transporta as dádivas da terra, principalmente aquelas mais pesadas de que não suportam os muares. Não existindo estrada, ele, sereno, caminha por sulcos e obstáculos de quaisquer tipos de solo. E o seu canto avisa a distância sobre a sua chegada.
Feito de madeira maciça, as suas rodas possuem a “cantadeira” que, untada com sebo, são as cordas vocais deste cantor dos sertões: “Carro que não canta, não presta”, dirá o carreiro, empunhando seu aguilhão com que conduz as suas juntas de boi, unidas pela canga no pescoço de cada um. Na frente, sempre vai um menino, o candieiro, dando a direção à junta da guia.

Carro de boi: quem ouve o seu canto jamais esquece...

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